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Felizmente, nada aconteceu

 

Por Amanda Marangoni e Emilly Gondim

 

Fazia sol, mas a previsão indicava chuva em breve. Meu estômago revirava, permeado de ansiedade. Éramos os próximos na fila da apavorante montanha-russa. Meus amigos me convenceram, apesar do meu medo de brinquedos radicais. “Nada vai acontecer”, eles disseram. De fato, na maioria das vezes, nada acontece. Lembro da menina que morreu tragicamente num brinquedo de queda livre; da mulher que morreu após descer em um tobogã. Será que posso confiar na probabilidade?

Para muitos, é um desafio suprimir as desconfianças quando se trata de desafiar a gravidade, em altas velocidades. Loops de montanhas-russas sugerem diversão e adrenalina para alguns; para mim, a preocupação de que algo dê errado e resulte num acidente fatal é inegociável. Compreender o motivo pelo qual alguém aceitaria essa trajetória de bom grado ainda é confuso.

Os funcionários verificam altura e peso antes de todo mundo entrar. O procedimento é corriqueiro, mas faz toda a diferença. Se ultrapassar os limites, a estrutura do brinquedo pode não suportar. Se bem que esses limites são ilusórios: 10 vezes abaixo da real capacidade. Chama-se coeficiente de segurança.

Entramos no primeiro vagão. O funcionário aperta o cinto e trava uma barra de metal que perpassa meus ombros. Pesquisas influenciadas por uma preocupação excessiva já diziam que esta é uma norma dupla: caso o cinto falhe, há a trava, e vice-versa. Mas essa lógica sugere a possibilidade de uma falha ou ainda que improvável, a possibilidade de duas. O que aconteceria se ambas falhassem? Calo meu espiral de pensamentos ilógicos.

No mesmo instante em que o carrinho parte, a chuva começa a cair. Lembro do efeito da chuva nas estruturas de metal. Será que a manutenção está em dia? Minha mente é interrompida: começamos a subir. Crec. Atrás de mim, um homem diz que sua trava está solta. O percurso continuou. Fechei meus olhos, todo o resto foi obscuro.

Felizmente, nada fatal aconteceu. Quando saio do carrinho, minhas pernas ainda tremem. Ao fim, o cinto cumpriu sua promessa. Mas a possibilidade de que ele poderia falhar ainda me atormenta. Não acho que terei coragem numa próxima vez.

COLABORADORES: Francisco Donatiello, engenheiro de segurança e presidente da Associação Brasileira de Parques e Atrações (Adibra). Claudio Hiroyuki Furukawa, físico do Instituto de Física da USP. Celso Arruda, professor de Engenharia Mecânica pela Unicamp Victoria Lira – estudante de Letras da UEG. Victoria Pires – estudante de engenharia química da UnB.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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