Eu me pesco nas águas que escorrem
Uma vida minha de muros e medos
Eu me navego nas ondas que acorrem
Um castelo de mil e um segredos
Eu me conquisto nas enseadas que percorrem
Um corpo embarreirado por autos degredos.
Vis-à-vis por entre gotas de mim
Que sorvo eu com tanto ardor
Rio por entre risos assim
O prazer de um eu semeador
Mergulho por entre Urim e Tumim*
Nado em sopros do eu amador.
Na fronteira do ser hoje e ontem
Sob sóis, finalmente, me bebi
Na muralha d’alma, que contem
É, das entranhas angústias, me concebi
Nos murros que muito me sentem
Emergi são olhar, sereiei, percebi:
Do mim, do meu, do eu: doeu.
Mas, há hora, nasci.
* Os termos, contidos na bíblia hebraica, referem-se, segundo estudiosos, a objetos relacionados à advinhação.