PEN!
PEEN!
PEEEN!
O sino final anuncia o início. Silêncio.
O frio que assume espaço na barriga dos que estão sentados é menor do que o daquelas a quem aguardam.
Borboletas. Em um patamar acima, permanecem abrigadas em coxias. Envoltas por casulos. Casulos que, ao mesmo tempo que cobrem, camuflam. Até que o fulgor as atrai para o tablado, desatando suas asas.
Tem que vir de dentro para fora, e não o contrário.
Se dependermos completamente disso, nunca poderemos voar.
Por meio de atos, palavras ou impulsos, suas vestes as transformam em vento.
Incorporamos e nos distanciamos ainda mais de quem somos.
Cútis. Couro. Casca. Corpo. É a pele de um camaleão tomando diversas cores e texturas. Metamorfoseia e faz o caminho entre céu e chão. Valoriza movimentos, estéticas e nuances, ajuda a trazer o peso e sua realidade.
Nos confins da cena, contemplação fixa de um devaneio coletivo. Corpos de tecido que substituem, cobrem e atiçam entendimento de quem assiste e de quem faz.
No palco, com as luzes, os figurinos trazem algo a mais, complementam o que queremos dizer.
E regem. Nos mostram até onde podemos ir e como devemos nos comportar.
Tal como o encerramento de um dia, o ápice se põe, se guarda. Os holofotes se apagam. O silêncio que antes trazia frio agora é preenchido pelo estalar de palmas abafadas.
Assim como o pôr-do-sol, cada vez no palco é única. Muito esperada, mas ao mesmo tempo breve. São momentos marcantes, mas que não se repetem.
Texto feito com base nos depoimentos dos atores Olavo Cavalheiro, Pier Marchi e Ana Flávia Fernandes e dos dançarinos Ariadne Okuyama, Julia Araujo e Hermano Cioruci a partir da pergunta “Se você tivesse que comparar seu processo de expressão artística quando está usando figurino com algum ciclo da natureza, qual seria?”.