O termo “mediano” trata do que é comum, normal, que está entre extremos. Dá conta de definir a maior parte das pessoas. Ainda assim, a palavra ganhou uma conotação tal que costuma ser recebida como uma ofensa.
Maria Alice Lustosa, psicóloga pesquisadora na área da antropologia médica, conta que o medo de estar na média remonta ao início da existência humana: “Em épocas de escassez de alimento só sobreviviam os mais fortes e espertos. O psiquismo humano, então, passou a considerar isso uma meta a ser alcançada”.
Ainda que não exclusivamente, a sociedade ocidental contemporânea exalta a conquista de forma especial, aponta o psiquiatra Amilton dos Santos Junior, que pesquisa a identidade e os valores em jovens. “Desde cedo somos levados a valorizar o que sai da média. Os pais ostentam: ‘minha filha é a melhor dançarina!’”, exemplifica. No decorrer da vida, redes sociais e meios de comunicação seguem introjetando esses valores. “A publicidade atua vendendo a ideia de que você precisa ser e ter mais”, diz Junior.
O médico lembra que culturas como a escandinava e a canadense valorizam o bem-estar comum. Já em países como Estados Unidos e Brasil, a lógica vencedores x perdedores prevalece. Ele relaciona essas diferenças ao nível de igualdade social em cada nação.
Junior conta que para pessoas em culturas competitivas o mais importante é se destacar dos demais: “Tem quem prefere sair do Canadá para viver com uma qualidade de vida inferior nos EUA, desde que esteja melhor que a maioria. No Canadá, muitos estão no mesmo patamar”.
Frente à mediocridade, a reação de cada um varia. Maria Alice explica: “Se minha cultura me treina para ser o primeiro e eu me exijo tal façanha, chegar em segundo será frustrante. Se me treina a ser colaborativo, a satisfação de chegar junto a muitos trará contentamento”.