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Na crise, o brasileiro bebe

 

Por Andre Romani

 

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”Não pense em crise, trabalhe” disse Michel Temer após assumir a presidência — o Brasil estava há onze meses em recessão  — ignorando o fato do brasileiro ser dedicado e destinado ao fardo. O que talvez não soubesse, é que o recuo econômico revelaria outra vocação nacional: a bebida. Enquanto o PIB anual do país caiu, em média, 1,3% entre 2014 e 2017, o setor de bebidas, dependente do mercado doméstico, expandiu em produção de vinhos, cervejas e destilados. “O Brasil exporta muito pouco em bebidas alcoólicas”, diz Rodrigo Lanari, da consultoria de vinhos ArtWine. Para ele, fatores como o complexo sistema tributário e os problemas de infraestrutura, que dificultam o escoamento, afetam o desenvolvimento do país em um mercado tão competitivo. 

O feito de se manter de pé em meio à crise ocorreu, em grande parte, graças à cerveja — bebida mais consumida do país. Mesmo com a atividade econômica fraca, o país ganhou mais de 90 novas empresas no setor apenas no primeiro semestre de 2017. Paulo Petroni, diretor da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja, credita o desempenho ao hábito de consumo. “Está deixando de comprar em bares e comprando no supermercado.” 

Essa receita também vale para o comércio de vinhos, que ainda foi beneficiado pelo aumento no volume de compras online. Na categoria que une o produto aos espumantes, o crescimento da vendas nos meios digitais foi de 230% de 2015 a 2018, segundo dados do Instituto Brasileiro de Vinho (Ibravin). “Por causa do formato, esses canais costumam levar muito mais informação e diversidade para o consumidor do que o presencial”, diz Diego Bertolini, gerente de promoção entidade. Segundo ele, outro fator que justifica um mercado aquecido, mesmo em período de crise, é a relação da bebida com a cultura fit e saudável, que está em alta. 

Além disso, há clara preferência do brasileiro pelo “vinho de mesa”. De acordo com Lanari, a modalidade representa 80% da produção do país. O produto é mais barato, pois é feito de uvas mais simples do que o “fino”. Não é preciso, no entanto, ser sommelier para distinguí-los. A diferença costuma estar explicitada no RG da bebida: o rótulo. 

Destaca-se ainda a alta de popularidade dos espumantes (que passa por uma fermentação a mais do que os vinhos tradicionais). As vendas cresceram 17% em 2018 ante o ano anterior, de acordo com a Ibravin. A indústria, que usufrui da vocação geográfica do país com solo e clima favoráveis, recebeu investimentos, profissionalizou-se e atraiu o consumidor. “O consumo per capita anual cresce a 4% (foram 147 mL em 2018)”, diz Felipe Galtaroça, da consultoria Ideal. O resultado, segundo ele, transformou o calendário de comercialização do produto. “Hoje, o espumante não é apenas uma bebidas de festas e datas comemorativas”, afirma ele, que acrescenta mais um ingrediente ao sucesso do artigo. “É doce, o que é do gosto do brasileiro.”

Enquanto ‘novas bebidas’ crescem no mercado doméstico, a cachaça, tradicional ingrediente da caipirinha, estagnou ainda assim bom resultado para a recessão. Para Carlos Eduardo Dudri, dono da cachaçaria Ipê, o mercado, que tem os estados de São Paulo e Pernambuco como maiores produtores e consumidores, ficou inflado e não teve demanda suficiente para expandir. “Há dez anos atrás todo mundo queria produzir cachaça, semelhante ao que ocorre com a cerveja artesanal hoje.” A falta de público é também resultado de uma mudança geracional. “Os jovens não se interessam mais. Com a crise, experimentam apenas as cachaças de baixa qualidade e acabam não se tornando consumidores fiéis”, acrescenta.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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