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Alô, mãe? É, eu não passei…

 

Por Juliana Brocanelli

 

“Descobri da pior forma que não fui aprovada. Eu morava ao lado da faculdade, então fui até lá para procurar meu nome nas listas, que ficavam num grande mural do ginásio de esportes. Meu nome não estava lá.”

Essa foi a primeira experiência de Érika com o vestibular, em 2008, quando prestou para Jornalismo na Universidade do Estado de Santa Catarina. “Não tinha ideia de como seria minha vida dali pra frente e nem de como falaria pros meus pais”, conta.

O sentimento foi o mesmo para Ricardo, que fez dois anos de cursinho antes de se formar, neste ano, em Produção Musical na Anhembi Morumbi: “A decepção dos meus pais era visível em seus olhares e na falta de paciência com as minhas horas de estudo. Acabei com meu psicológico durante esses anos”.

Os números, porém, mostram que esse trauma é relativamente comum no nosso modelo educacional. Na USP, por exemplo, cerca de 63% dos alunos aprovados vêm de segundas ou mais tentativas.

Encarar esse cenário foi o que ajudou Ana a cursar Arquitetura na USP. Em 2010, quando prestou vestibular pela segunda vez, o baque foi maior: “Foi o pior ano, principalmente porque eu via o esforço da minha família.” No ano seguinte, seus pais não puderam mais pagar o cursinho, o que fez com que ela vendesse ovos de páscoa para continuar estudando. “Eu sabia que seria minha última chance, o que me motivou ainda mais”.

Bruno, professor de cursinho há 14 anos, reconhece que, geralmente, os alunos que tentam pela segunda vez mostram uma postura diferente — são mais engajados com a aula e menos brincalhões. “Até por isso acabamos dando uma atenção pessoal maior para eles”. Sobre o conteúdo das aulas, ele mostra uma preocupação em mudar a abordagem de um ano para o outro, pensando também na experiência desses estudantes.

Além desse estímulo, todos contaram com um apoio próximo para que continuassem tentando. No caso de Érika, foi a melhor amiga, que também havia sido reprovada. Já para Ricardo e Ana, os ombros vieram de seus pares amorosos à época que, como conta Ana, a segurou todas as vezes em que pensou em desistir.

Apesar dos três concordarem que a aprovação veio no momento certo, eles ainda lidam com os efeitos das várias tentativas. Érika, que trocou o Jornalismo por Administração e está formada pela UDESC, resume: “Mexeu muito com minha autoestima. Foram vários anos dedicados a uma sensação de incapacidade generalizada e de estar ficando pra trás”.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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