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Ano novo, vida nova

 

Por Matheus Souza

 

Dez. É uma grande reunião que vai daqui ao outro lado do mundo. Entre amigos, famílias, namorados e solitários, pensando e sentindo no ritmo que escolhemos para ver o tempo passar. Um segundo por vez.

 

 

Nove. Usamos as melhores roupas. De preferência aquelas que ainda não foram usadas. Camisa velha é mau presságio. Um aviso para o destino: quero as melhores coisas, visto as melhores roupas. O dentro e o fora sempre conversam.

 

 

Oito. vem da herança judaico-cristã nossa maneira de enxergar o tempo em fatias. Dias, meses, anos. E a possibilidade de renovação em cada uma delas.

 

 

Sete. Na noite maranhense, Carlos vai ao mar para encontrar Iemanjá. E também reencontrar-se, a proximidade das águas trazendo paz de espírito e corpo. Lembra-se da senhora que recolhia a sujeira da praia e tanto se emocionou ao ser abraçada por ele numa noite como essa. Depois daquele abraço, ele passou a se preocupar mais com quem tem menos.

 

 

Seis. Liana, em São Paulo, renova os compromissos com a Terra e seus ancestrais indígenas. É uma passagem de ciclo, mas ela sabe que a vida nunca para.

 

 

Cinco. Ao contrário de Carlos e Liana, Khairul está longe de seu país, Bangladesh. Hoje ele fica triste, não de saudades, mas pela excentricidade da festa brasileira ‒ a música, a bebida, a alegria enfeitada. Para ele é dia de pura e simples devoção.

 

 

Quatro. Nem sempre o ano novo foi grande, antes os ciclos eram marcados pelas colheitas e as estações. Só mais tarde o calendário ficou importante. A data virou um espetáculo ainda maior com a fotografia, a televisão, a internet. Prepare o celular para os fogos.

 

 

Três. Em alguns lugares, a natureza persevera. No interior do Rio Grande do Sul, Raquel quase não tinha anos novos. Era época de trabalho para quem vivia das lavouras. Ano desses ela se mudou e o mundo mudou junto: foi estudar na cidade. Outra escola, outras pessoas, outros sonhos, outra Raquel.

 

 

Dois. Dessa vez vamos mesmo nos tornar outras pessoas, melhores. O novo ano é um incentivo pra acreditarmos que estamos no controle, mesmo que seja falso, inventado como a passagem dos dias. Aí sim vamos fazer dieta, passar mais tempo com os pais, juntar dinheiro.

 

 

Um. Marli não faz muitos planos. Na igreja, como de costume, ela agradece pelo ontem e clama pelo amanhã. Nunca se sabe, às vezes o ano chega e algumas pessoas ficam. Foi nessa época que perdeu a mãe. Ainda assim, agradece.

 

 

Feliz ano novo! De novo. Espero que encontrem as forças necessárias para cumprir as promessas. Como um verso de Drummond para um ano hoje velho: “É dentro de você que o Ano-Novo cochila e espera desde sempre”.

 

 

Colaboraram: Carlos Pimentel, Raquel Kobus Loskar, Liana Utinguassu, Marli Bernardino, Khairul Islam, e os professores Guilherme Howes, da Universidade Federal do Pampa, e Sara Kislanov, da Pontifícia Universidade Católica do Rio.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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