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Corpo em movimento

 

Por Beatriz Gatti

 

Setembro de 2002. No quintal da casa da pequena Luciane, as brincadeiras eram muitas. Pular corda, jogar queimada, brincar de pega-pega. De repente, com dores e inchaços nas pernas, Luh foi internada. Passaram-se alguns meses até a confirmação do diagnóstico. Completou 12 anos em julho e, em setembro, já não conseguia caminhar sem ajuda.

 

Outubro de 2007. Depois de perder o segundo ônibus para Botucatu, a amiga de Cátia ofereceu uma carona até a cidade onde a menina de 16 anos treinava futebol. Cátia deitou no banco de trás e, pouco tempo depois, o carro da frente freou bruscamente. A amiga até tentou parar o automóvel para evitar a colisão. Sem sucesso.

 

Outubro de 2014. Era por volta das 6h20 da manhã quando Jéssica saiu para o trabalho. Às sextas, o trajeto era feito de moto. Quase chegando, ela foi surpreendida por um senhor distraído com o celular ou o rádio. Ele invadiu a contramão e atingiu Jéssica em cheio.

 

Luh tornou-se cadeirante por causa do raquitismo; Cátia teve uma lesão na cervical que a deixou tetraplégica; e Jéssica sofreu a amputação da perna esquerda após o acidente. De três maneiras diferentes, todas tiveram grandes impactos em suas vidas. Recomeçaram. 

 

Não foi fácil para a Luh de 12 anos assimilar que estaria presa a uma cadeira-de-rodas. Não queria olhar para ninguém e tinha vergonha de seu corpo. Só começou a se aceitar aos 24 anos, depois que, já na universidade, conheceu outras pessoas cadeirantes. “Pensei: ‘elas vivem felizes da vida. Por que eu vou ficar sofrendo quando tenho que me incluir?’”.

 

O mesmo aconteceu com Cátia. A dor de não poder mais jogar futebol foi pior do que a de não poder mais andar. Somente quando viu uma sorridente criança de 5 anos no mesmo centro de reabilitação, foi que ela passou a processar a informação. Depois de seis anos e muitas sessões de fisioterapia  , viu, de novo, o esporte mudando sua vida. Começou a jogar tênis-de-mesa em 2013 e em dois anos já estava na 10ª colocação do ranking mundial de sua categoria.  

 

Luh também se apaixonou por uma raquete: a de badminton. Apesar das dificuldades iniciais, logo ela se viu treinando profissionalmente. E assim ganhou autonomia e liberdade. Até viajar sozinha, viajou para competir, inclusive. 

 

Jéssica, por outro lado, lidou com a amputação de forma surpreendente até para a equipe médica. Apesar das inseguranças do início não sabia se voltaria a estudar e tinha medo de como Gabriel, seu namorado, reagiria —, logo passou a encarar a realidade com outros olhos. “Queria descobrir o que eu conseguia fazer, queria me descobrir”. 

 

Menos de um ano após a amputação da perna, ela estava nas piscinas. Em 8 meses de prática, já nadava 3km por dia. Hoje, ela concilia o final da faculdade com palestras sobre sua história, treinos de crossfit e o Rafa, seu filho com Gabriel. “Agora parece que meus dias têm 48h. Não imaginava que minha vida podia mudar tanto para melhor”.  

 

O que Luh, Cátia e Jéssica também têm em comum são as expectativas para um futuro próximo. Jéssica está no período de teste de uma nova prótese; Cátia quer trazer a medalha de ouro das Paralimpíadas de 2020; e, recém formada em jornalismo, Luh não para por aí. Acabou de fazer o ENEM. “Quem sabe não presto educação física? Nunca mais quero me limitar. Passei muitos anos parada. Já tá bom, né?” 

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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