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Agora Irene ri

 

Por Isabella Velleda

 

A auto-estima de uma pessoa começa a ser construída na infância: então é claro que a de Irene estava fadada à ruína. Gorda de nascença, como ela bem reconhece, sendo que essa qualidade só passou a ser ruim quando ela conheceu os olhares das crianças da escola.

 

E os comentários, e as brincadeiras de mau gosto, e o bullying. Como se os olhares já não tivessem passado o recado.

 

Mas enquanto houvesse crianças à sua frente, Irene não sofreria calada. Ela batia mesmo. Toda essa massa corporal, afinal, tinha que servir para alguma coisa. Mas depois que seu irmão vinha resgatá-la e sua mãe a colocava de castigo, aí sim ela não tinha outra opção.

 

Irene perdeu sua mãe aos 12 anos; seu pai já havia partido há muito tempo. Antes das coisas melhorarem, elas sempre ficam piores. Foi mais ou menos nessa época que ela começou a se vestir com roupas masculinas, e para cada olhar feio recebido, ela respondia com um olhar mais feio ainda.

 

Se você se deixa levar pelos sentimentos, você é fraco. Se os reprime, você é covarde. Por muito tempo, Irene foi do segundo tipo. Aos 24 anos, porém, as camadas que recobriam seu corpo e suas emoções foram rasgadas. No ensaio de fotos de um namorado estudante de fotografia, Irene se viu bonita pela primeira vez.

 

E sem mais nem menos, sem saber da onde surgiu e por que demorou tanto tempo para vir, Irene percebeu que o único olhar que importava era o seu. Que o único que valia a pena agradar era o seu. Que já era hora de não deixar uma auto-imagem erroneamente imposta servir de base para a sua auto-estima (só que com outras palavras).

 

Mas o problema nem sempre é o olhar. Às vezes, quando sai para comprar roupas, Irene se sente invisível em uma loja cheia de vendedores, que não são movidos a atendê-la nem mesmo pelo pragmatismo de quem ganha comissão sobre cada venda consolidada. A ausência do olhar também pode abalar.

 

Vida que segue. Mas Irene não quer que tenham pena dela – afinal, ela, agora mãe de dois filhos, está melhor do que esteve por muito tempo. 


Fontes: Irene Nobre e Maria Ondina Peruzzo (psicóloga de grupoterapia – Universidade São Marcos).

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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