“Inteligência é tudo. Informação é tudo”. Com esse mote, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, anunciou em setembro o aporte de R$32 milhões de reais o governo federal em um projeto batizado de Big Data. O programa, importado do Ceará, reúne tecnologias de monitoramento para vigiar ocorrências de várias formas, indo das câmeras de patrulhamento aos bancos de dados.
Moro prometeu tornar “mais eficaz” as ações de segurança, mas os resultados ainda são desconhecidos. Dessa forma, como compreender a eficiência? Olhar para o Ceará pode ser a resposta.
Também apostando em um controle mais rígido a presídios, o Estado apresentou números significativos na segurança pública em 2019, antes de um motim da PM no início de 2020. Os dados cearenses demonstram que o sucesso é possível, mas com condições sucesso – entre elas, material humano, já que sem policiais na ruas e no controle das câmeras, os números de crimes dispararam especialmente em fevereiro de 2020.
…Mas os Estados investem mais…
Outra das condições são valores: em alguns casos, os Estados chegam a alocar mais no setor do que Brasília, embora muitas vezes com incentivo federal. Para atingir o nível de 2019, por exemplo, o Ceará sozinho investiu mais que o Ministério da Justiça em um programa semelhante, aplicando quase R$40 milhões no setor entre 2015 e 2018. Outros Estados acompanham o ritmo, e ao longo da última década milhões de reais voaram de bolsos públicos para câmeras de segurança.
Mesmo com tanto dinheiro, a redução no número de crimes não necessariamente ocorre. Embora os Estados tenham suas taxas próprias, o total do Brasil segue inconstante: de acordo com o Monitor da Violência (G1/NEV-USP), entre 2007 e 2019 apenas cinco anos terminaram com quedas no número de homicídios – incluindo o ano passado. A contagem atingiu o ápice em 2017 (59 mil).
…Só que o setor privado segue forte
A percepção de ineficiência pública ainda alavanca o setor privado. Segundo pesquisas do Sindicato das Empresas de Segurança Privada de São Paulo (Sesvesp), em 2018 havia 2,7 mil companhias atuando em segurança privada no país.
“(Elas têm) um crescimento muito agressivo… Há uma demanda muito grande, pela ineficiência da segurança pública. Sem policiamento, você tem que investir em uma cerca elétrica, um sistema de infravermelho, sistema de pânico, tudo isso com monitoramento”, diz Claudio Márcio Santos, gerente da Panther Segurança, uma das maiores do Vale do Paraíba.
Ele destaca que comércio e indústria, por exemplo, são obrigados pelas seguradoras a contratar empresas do ramo: “isso diminui perdas em caso de intrusão”.
Síndico de um condomínio de 54 casas, Francisco Roberto concorda com a necessidade da segurança privada, e acrescenta que essa é uma das principais demandas dos moradores. Ele investiu recentemente R$5 mil para renovar o sistema de câmeras do local e paga R$12 mil/mês a uma empresa de vigilância.
“É o que o morador quer… Tinha um policial que morava aqui e dizia que reforçava a patrulha no bairro, mas a gente não quer depender da preocupação dele. Aí ele se muda e a patrulha acaba? A empresa tá de olho sempre”, afirma.