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Não olhe, observe

 

Por Lígia Andrade

 

Para você, como é observar o mundo ao seu redor? Se passou pela sua cabeça qualquer imagem visual, espere aí. Veja bem: observar pode, muitas vezes, não ser com os olhos. E, olhe só, embora uma vasta gama de expressões torne o ato de observar um mero enxergar, não é bem assim, viu?

 

A conexão entre observar e olhar está presente em 96,5% da população brasileira — esse é o número, segundo o IBGE, de pessoas que não possuem dificuldades visuais. Mas e os 3,5% restantes de pessoas com total ou grande deficiência visual apenas no Brasil, como elas observam o mundo?

 

Fernando Scalabrini, 39, fundador do podcast Papo Acessível, não tinha mais que 25 anos de idade quando se deu conta de que perderia a maior parte de sua visão. O diagnóstico já era sabido: doença genética, síndrome de Usher. Seu panorama de mundo é concebido por sombras e sinais luminosos, algo em torno de 3% da capacidade de uma visão intacta. Observar, para Fernando, é sentir, ouvir, tocar e experimentar novos sentidos. É, também, perceber que uma simples caminhada à padaria está mais lenta, e é imaginar o rosto de uma pessoa querida apenas pelo que ouve e sente.

 

Não há como negar que a observação é complexa e repleta de sentidos. Para Homero Santiago, professor de filosofia da FFLCH, observar “envolve um objetivo menos de apreciação que de busca e tentativa de descoberta”. Descobrir, com ou sem a intenção de procurar, pode ser uma boa explicação do porquê observamos. Afinal, qual é a melhor maneira de observar, por exemplo, uma refeição? Olfato, lembrança, tato, paladar — são diversas as possibilidades. Há também, lembra Homero, a observação do homem moderno: introspectiva, de fora para dentro, sem conexão com o físico e, assim, invisível. Deu para ver que não precisamos olhar para observar?

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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