Você já se perguntou do que são feitas as coisas? Hoje, essa questão pode ser buscada na internet, porém, séculos antes de Cristo, pensadores queimaram os neurônios para respondê-la. Eles não estavam satisfeitos com a resposta de que tudo surge do nada. Mal sabiam que essa pergunta seria uma sementinha para ciência moderna, pois, ao deixarem de lado as explicações da mitologia, abriram o caminho para o raciocínio lógico.
Cada filósofo encontrou sua maneira de responder essa questão, por exemplo, Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo do ocidente, acreditava que a água é a origem de tudo. Já o filósofo Demócrito (546-460 a.C.) defendeu que tudo é feito de minúsculas partículas chamadas átomos.
Essa ideia foi comprovada no século XIX, com as experiências do químico inglês John Dalton. Porém, ainda hoje não se sabe ao certo o que existe dentro das menores partículas conhecidas, então a grande pergunta do passado, “do que são feitas as coisas?”, continua sem resposta.
Para a professora de Filosofia, Aline Medeiros, é preciso reformular as perguntas para abrir a possibilidade de novas respostas. Por exemplo, quando se perguntar “como seria a sociedade ideal?”, refine essa questão dividindo-a em outras perguntas, como:
“O que constitui uma sociedade?”;
“O que queremos dizer quando falamos de algo ‘ideal’?”;
“Que tipo de pessoa faria parte da cidade ideal?”;
“Como podemos garantir a formação desse tipo de pessoa?”.
Sócrates (469-399 a.C.) questionava as pessoas para incentivar a reflexão delas, não para encontrar respostas; para ele, havia muito valor filosófico em uma única pergunta. Então mesmo que não encontre respostas prontas, o trabalho essencial já foi feito, que é questionar o mundo. Para Aline, uma pergunta sem resposta não é indício de falha de inteligência. Mas o primeiro passo na busca pelo saber.
No entanto, será que o valor dela pode ser perdido com o passar dos séculos? De acordo Juliana Missaggia, professora de Ética e Filosofia, a tecnologia ajuda a matar parcialmente a curiosidade humana, afinal, não são todas as respostas que estão a um clique de distância. E esse cenário não irá mudar, pois ao encontrar uma resposta, como as partículas de átomo, outras perguntas surgirão e, enquanto elas despertarem curiosidade no ser humano, não perderão valor.
Colaboradores: Aline Medeiros Ramos é professora de Filosofia na Université du Québec à Trois-Rivières e doutoranda em filosofia na Université du Québec à Montréal, no Canadá. É especialista em filosofia medieval e história da filosofia. Juliana Missaggia é professora de Ética e Filosofia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).