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Acorda, enfrenta, repete

 

Por Beatriz de Azevedo

 

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Arte por Danilo Moliterno e Gabriella Sales

 

 

No Brasil, 79 milhões de pessoas trabalham todos os dias e devem conhecer este sentimento de acordar às 06h da manhã com um questionamento: “será que vale a pena levantar hoje?”. A única coisa capaz de trazer consolo é lembrar que, daqui a algumas horas, será possível voltar para a cama, Mariana costuma chamar essa sensação de cansaço.

 

Ela trabalha em Ouroeste e mora em Indiaporã, duas cidades no interior de São Paulo separadas por 10 quilômetros de distância. Sem veículo, ela precisa de carona para chegar ao trabalho e voltar para casa depois. Não há linha de ônibus entre as duas cidades.

 

Todos os dias, surge aquele sentimento de que entrar no próximo carro pode ter apenas dois resultados: chegar sã e salva ao trabalho ou respirar pela última vez. Se essa descrição não foi precisa o suficiente, você provavelmente é homem, mas não se preocupe! Quase 9% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência sexual, elas vão entender muito bem.

“Todas as vezes que um carro para, meu coração acelera, principalmente quando é um homem ao volante”. A adrenalina, o hormônio da fuga, começa a jorrar pelas suas correntes sanguíneas. “Será que devo aceitar? Ele me parece inofensivo”. Batimentos cardíacos acelerados. “Se eu não for, meu chefe me mata”. Contrações musculares involuntárias. Engole o medo. “Bom dia, moço! Indo para Ouroeste?”.

 

Marcos também se entope de adrenalina sempre que precisa receber centenas de litros de combustível no posto em que trabalha, às 02h da manhã. Ele é gerente de um posto de gasolina, na cidade de São Paulo. “É perigoso ficar em posto de gasolina à noite, muito assalto! Um amigo meu trabalha em um lá em Guarulhos que foi roubado 40 vezes em duas semanas…sempre depois da meia noite”.

 

O chefe não deu escolha, aparece ou é rua. Perigo por perigo — com mais de 14 milhões de desempregados — passar fome incomoda bem mais. Ele gosta de filmes de herói, e imagina como deve ser salvar o mundo, mas não sabe que seu posto pode não salvar a humanidade. Mas a gasolina que recebeu acabou de abastecer uma ambulância, isso deve salvar a vida de alguém por aí.

 

Pode parecer incrível ver super heróis de cinema travando grandes batalhas contra ameaças perigosíssimas. Mas será que eles fariam isso todos os dias depois de um café da manhã rápido? A verdade é que os heróis de filme não precisam bater ponto no trabalho, todos os dias. Eles aparecem ocasionalmente, de anos em anos.

 

Marcos, Marina e outros milhões de brasileiros que ainda têm um emprego são obrigados a lutar com seus próprios grandes vilões todos os dias. Se o processo seletivo para super heróis exigisse mesmo coragem, eles iriam ao trabalho de carona, não voando. E seriam feitos de carne e osso, é muito fácil ser à prova de bala.

 

Colaboraram:

Mariana Alves de Matos

Marcos Eduardo Filho

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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