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Além do limite

 

Por Renata Sousa

 

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Arte por Danilo Moliterno e Gabriella Sales

 

 

Você já deve ter sentido o friozinho na barriga de estar apaixonado. E o êxtase de conseguir aquela vaga de emprego? Pode parecer estranho, mas há algo em comum entre essas sensações e o que motiva alguém a escalar o Everest. Ou a desafiar a fisiologia humana e enfrentar a alta pressão do fundo do mar.

 

Às vezes a aventura em questão é pular de paraquedas. Outras vezes, porém, é andar em uma corda sobre a cratera de um vulcão. Em março de 2020, o slackliner Rafael Bridi, especialista nas travessias em alturas elevadas, conseguiu o feito inédito.

 

A fita de slackline estava posicionada a 261 metros do chão. Algo como um prédio de 45 andares. As lavas do vulcão Yasur, em erupção constante, podem atingir até 400 metros de altura. Uma explosão não calculada poderia corroer a corda. Se a lava, a uma temperatura de, no mínimo, 600ºC, atingisse Rafael, ele provavelmente não resistiria. Mas, para o atleta, se desafiar faz parte do encanto das aventuras. “Quando as pessoas me falam que não dá para fazer, é como uma motivação para tornar possível”, conta.

 

Grandes emoções, mesmo que não envolvam risco de vida, despertam uma sequência de reações químicas no nosso corpo. A sensação de bem-estar, por exemplo, está atrelada à ação das “endorfinas”. A diferença é que, nas atividades radicais, tudo isso aumenta de intensidade por conta da ação de um importante hormônio: a adrenalina, associada ao perigo e ao estresse. Cientificamente, aqui está o primeiro indício do porquê algumas pessoas assumem riscos e optam por viver aventuras.

 

Como um vício, o desejo pela aventura é constante. Mas para ser o primeiro slackliner a atravessar um vulcão ativo não basta vontade. Condicionamento físico, conhecimento dos materiais e do ambiente são essenciais. Após tanto preparo, cumprir o objetivo desperta o sentimento da recompensa. É o que sente a mergulhadora Karoline Meyer. Recordista mundial, ela já ficou 18 minutos e 32 segundos embaixo d’água, sem máscara de oxigênio.

 

Para o recorde, Karol inspirou oxigênio puro, diferente do que inalamos normalmente, armazenou o ar em seus pulmões e mergulhou. Pronto. Depois de mais do que o tempo de intervalo de uma partida de futebol, ela voltou à superfície. A mergulhadora é a brasileira com mais recordes na categoria apneia — que não faz uso de equipamentos de respiração.

 

Nessas práticas, a linha entre a emoção e o perigo é tênue e acidentes acontecem, claro. Na temporada de 2021 de subida ao Monte Everest, por exemplo, quatro alpinistas não resistiram. Outros 534 cumpriram os 8.848 metros de elevação da montanha. Dentre os brasileiros que conhecem o topo do mundo, Rodrigo Raineri já chegou três vezes ao cume.

 

Raineri ressalta que, apesar do Everest ser a estrela do alpinismo, essa não foi a montanha tecnicamente mais complexa de sua carreira. Técnica à parte, o que todas as montanhas têm em comum para o alpinista é a paz e conexão espiritual que ele afirma sentir lá em cima. Sentimento de tranquilidade frente ao extremo que só os aventureiros, como Rafael, Karoline e o próprio Raineri, podem explicar.

 

Colaboraram:

Carla Torres, médica do trabalho, especialista em medicina hiperbárica e responsável pelo canal no YouTube “Medicina do Megulho”

João Felipe Franca, cardiologista e diretor da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Estado do Rio de Janeiro (SMEERJ)

Karol Meyer, mergulhadora em apneia

Rafael Bridi, slackliner e empresário

Rodrigo Raineri, alpinista, empresário e consultor

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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