logotipo do Claro!

 

Entre bolhas e realidades

 

Por David Ferrari e Gabriel Guerra

 

Arte por Luana Benedito e Maria Luiza Bassan

 

O homem é um ser social. Foi assim que Aristóteles classificou o ser humano há mais de 2,4 mil anos. Para o pensador, a sociedade é carente, por isso precisa de outras pessoas para se sentir feliz e plena. 

 

A formação de grupos sociais possui camadas e organizações complexas, até mesmo com a criação de termos para designá-las, como “bolhas sociais”. Mas… qual é a influência das bolhas sociais em nossas vidas? 

 

Anna Bentes, psicóloga e doutoranda em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observa que elas limitam o alcance das relações sociais. “Se você fica vendo sempre a mesma coisa, você tende a reforçar apenas aqueles mesmos comportamentos ou perspectivas, e não vê o mundo de forma diferente”, explica.

 

Clécio Luiz e Celene Chrispim são duas pessoas da mesma faixa-etária — 48 e 51 anos, respectivamente. As semelhanças entre eles, no entanto, ficam apenas na primeira letra do nome e na proximidade de idades. Os dois vivem em bolhas distantes: Celene é cética às teses conspiracionistas e evita se relacionar com pessoas que as defendem; Clécio se define como terraplanista e possui milhares de amigos virtuais que também acreditam que a Terra é plana. 

 

Clécio transita entre dois mundos distintos: o virtual e o real. No digital, administra um grupo com mais de 14 mil membros no Facebook, e nele compartilha informações que supostamente comprovariam a tese de que o planeta é plano. No mundo real, ele não tem amigos terraplanistas, e “as pessoas se recusam até a conversar a respeito”, conta.

 

O conteúdo compartilhado por Clécio tem boa aceitação nas redes, chegando a 80% de reações positivas. Fora das telas, somente 7% da população acredita que a Terra seja plana, segundo pesquisa do Datafolha realizada em 2019.

 

Celene Chrispim provavelmente reagiria negativamente aos posts de Clécio Luiz. A biomédica e professora do ensino fundamental opta por se afastar de indivíduos que acreditam em teorias anticientíficas, como o suposto “chip da vacina”, os quais os conspiracionistas afirmam estar nos imunizantes contra covid-19 para rastrear pessoas, tudo isso com o “apoio” de Bill Gates, fundador da Microsoft. 

 

Apesar de as teses serem mentirosas, estudo feito em julho deste ano pela Datafolha constatou que 5% da população brasileira não pretende se vacinar contra o coronavírus. 

 

Para Celene, as bolhas sociais deixam as pessoas mais seguras para opinar, mas também “impedem o acesso a novas realidades e conhecimento”. Ao se afastar de conspiracionistas, as pessoas acabam por formar uma nova bolha social. 

 

No entanto, isso não é fácil de identificar. De acordo com Anna Bentes, estudos mostram que grupos constituídos por pessoas de mentalidades semelhantes são formados de maneira quase irracional, muitas vezes devido a proximidades comportamentais.

 

E você já parou para pensar nas suas bolhas? Conversa com pessoas de diferentes mentalidades e comportamentos?

 

Colaboraram:

Anna Bentes, psicóloga pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Celene Chrispim, professora do ensino fundamental, biomédica formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Clécio Luiz, músico, compositor e produtor musical

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com