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Queer no topo

 

Por Luana Machado

 
Arte por Iasmin Rodrigues e Mateus Dias

 

No começo dos anos 2000, Valder Bastos, vindo do interior e recém chegado na capital, trabalhava panfletando na noite paulistana. Uma noite, na companhia de amigos, decidiram se ‘montar’. Inicialmente, rejeitou a ideia que, algum tempo depois, se tornaria parte essencial de sua identidade. 

 

Essa é a história do “nascimento” de Tchaka, apresentadora, atriz, e rainha da Parada LGBTQIA + de São Paulo. 

 

Atualmente, a arte queer ganhou novas proporções. A oferta de produções queer na grande mídia foi ampliada e não só pelas pressões desse público para uma maior representatividade nas telas, mas também da iniciativa dos estúdios e gravadoras, que identificaram nas representações dessa cultura uma oportunidade de atrair um público antes invisibilizado. Esse aumento, no entanto, é atrelado ao ‘pink money’, ou seja, objetiva a atração do capital da população LGBT e impacta esse meio cultural para torná-lo mais palatável ao telespectador, o que também gera um desvio da arte queer de seu caráter social. 

 

A performance drag, por exemplo, se popularizou com o reality show “Ru Paul ‘s Drag Race”. Em sua 14ª temporada, lançada em 2022, o show bateu recorde de audiência no Canal VH1 na estreia, mobilizando 738 mil espectadores. O sucesso do reality, inspirou a criação de séries do gênero no mundo, como o programa ‘Queen Stars’, da HBO Brasil. 

 

Na década de 90 e início dos anos 2000, artistas drag perfomavam em casas de show com baixa visibilidade na cena cultural da cidade. Tchaka, prestes a completar 22 anos de carreira, conta que suas primeiras referências foram as artistas que se apresentavam nos clubes locais, o que gerava um sentimento de identificação e resistência dessa comunidade a partir do fazer artístico. 

 

Hoje, as referências se alteram pela forma como as produções são assimiladas e consumidas. A recepção de realitys drag, por exemplo, parte de uma narrativa dramatizada, o que gera discussões sobre a superficialização dessas identidades para o grande público. A influência comercial reflete no meio artístico criando uma divisão entre as performances e representações queer consideradas mais palatáveis para o público. 

 

César Castanha estuda representatividade na comunicação e afirma que a popularização não retira o caráter político e social da arte marginalizada, já que ela seria assimilada a partir da ‘sensibilização’ do espectador, mesmo quando provoca estranhamento, riso ou deslumbre. Assim, ela não pode ser dissociada da análise das identidades representadas. Be Zilberman, que começou a performar desde 2016 como drag queer, associa sua apresentação drag como o exacerbamento de sua identidade. E Tchaka, por exemplo, utiliza suas performances, a partir do humor e da arte, como forma de conectar públicos. 

 

A arte queer  tem se adaptado para uma maior visibilidade na mídia  embora não deixe de estar atrelada à estranheza, excesso e o melodrama que são inerentes ao queer. Porém, seja como performer, produtore de cinema ou pesquisador, a comunidade LGBTQIA+  busca repensar a representatividade do ‘mainstream’ para que exista uma produção voltada para essa população em todos os níveis de desenvolvimento, que celebre as tradições comunitárias e não explore corpos e identidades.

Colaboraram:

Be Zilberman, diretore de cinema e produtore

Cesar Castanha, especialista em comunicação

Christian Gonzatti, doutor em comunicação e diversidade

Tchaka, atriz e apresentadora

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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