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Sobre os monstros mais belos

 

Por Mariana Marques

 

Arte por Iasmin Rodrigues

 

Isso não é arte. Foi essa frase que Gabriel Grecco escutou de um casal que visitou uma de suas exposições. O comentário não abalou o artista. No dia seguinte, Gabriel pintou um quadro no qual um menino negro segurava uma metralhadora. Nele, em letras bem grandes, escreveu: “Isto não é arte, este é o nosso mundo”. 

 

O pintor e escultor utiliza a arte como uma forma de criticar as pessoas, a sociedade e, principalmente, a si mesmo. Nas obras, imagem e texto se interligam para gerar no outro sentimentos de desconforto. Embora Grecco admita que considera grande parte dos seus quadros e esculturas lindos, seu trabalho artístico foge do que muitas pessoas julgam como esteticamente agradável. 

 

Mas isso não é novidade no mundo da arte. Mesmo no período renascentista, conhecido por suas obras simétricas e realistas, muitos artistas desafiavam o status quo para dar espaços aos mais tenebrosos monstros da mitologia greco-romana. Nas telas e esculturas, criaturas disformes e horrendas roubavam o protagonismo de deuses e heróis. O nome dado a esse tipo de expressão artística até hoje faz parte do nosso vocabulário: grotesca. 

 

As características da estética dissidente, que, no século XVI, atraiu centenas de espectadores para contemplar criaturas mórbidas, foi a mesma que encantou Pedro Panta durante a juventude. Professor e artista plástico, ele sempre se interessou mais pelas expressões artísticas disformes e assimétricas. Hoje, é na arte grotesca que Pedro encontra suas maiores inspirações para desenhar, explorando a capacidade humana de se atrair por tudo aquilo que é rejeitado pelo senso comum de beleza.  

 

E o grotesco está longe de se restringir às artes plásticas. A atriz e performer Rosi Martins, que incorpora a dicotomia entre o belo e o feio ao entrar em cena, já chegou a ser abordada por uma senhora que, ao vê-la atuando, convenceu-se de que Rosi era uma pessoa psiquicamente adoecida. Em uma de suas videoperformances, ela encarna de forma tenebrosa a figura mitológica de Cronos. Inspirada no quadro do pintor grotesco renascentista Goya, a videoperformance articula elementos feios, desconcertantes e trágicos antigos, mas que permanecem vivos na arte até hoje. 

 

A feiúra na arte não possui objetivos engessados, ela surpreende, provoca, espanta, causa repulsa ou medo. Mas se deparar com essa arte disruptiva possibilita um questionamento ativo do padrão estético vigente. A representação da feiúra na arte permite que, ao observar o diferente e o monstruoso, o ser humano se depare e aprecie o seu próprio lado feio e grotesco. 

Colaboraram: 

Gabriel Grecco, artista plástico

Pedro Panta, ilustrador e professor de arte

Rosi Martins, atriz e performer

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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