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Axé para (r)existir

 

Por Theo Sales

 

Arte e Imagem: Iasmin Cardoso e Vinícius Machuca

Conta um itan (mito da cultura iorubá) que o próprio Exú ensinou a um homem chamado
Ogan a arte de tocar e cantar para os orixás. A partir de então, a pessoa que fosse responsável
pela musicalidade dos deuses receberia o cargo de Ogan. Diante dessa responsabilidade,
Alexandre Buda, mestre de percussão, busca a conexão com o sagrado através dos
cânticos e toques.

Filho de Ialorixá (mãe-de-santo), o músico e professor teve seu primeiro contato com o
Candomblé e a musicalidade sagrada através da barriga de sua mãe. Apaixonado pelo som
dos atabaques, quando criança, ao voltar para casa após o candomblé com a mãe, Buda
passava a noite tentando imitar os movimentos das mãos dos experientes ogans. Para o
músico, sua profissão e meio de vida, parte de sua identidade, vieram a partir de sua
religiosidade.

Enquanto os ogan tocam para as divindades, seus filhos dançam em transe. O babalorixá
(pai-de-santo) David incorpora seu Santo: Xangô, o Senhor da Justiça e, ao receber a
divindade em seu Orí (cabeça), ele assume sua personalidade. Porém, suas características não
se espelham em seu orixá apenas quando está em transe. Como Omo Òrisà (filho-de-santo), a
pessoa carrega características de seu Santo em seu corpo e em sua personalidade, explica o
sacerdote.

Orí eni ní um’ni j’oba. Em iorubá: a cabeça de uma pessoa faz dela um rei. Filho de Xangô, o
rei do Império de Oyó, David se identifica com aspectos de seu orixá, como o senso de
justiça e a oratória. Seus deuses e seus ancestrais são meios de se entender a si mesmo, por
meio dos arquétipos, histórias e experiências.

Essa relação dentro do candomblé acontece com Thauane Rodrigues, que busca forças em
Iyewa, sua orixá, e Iemanjá. Mas também na história das mulheres fortes que vieram antes
dela — suas mães e avós, carnais e de fé — que, com muita luta, perpetuaram sua crença. Ela
será a herdeira do seu terreiro, a Casa de Iemanjá. Essa responsabilidade pesa sobre suas
costas, mas ela não foge e assume essa posição com orgulho, inspirada na história de luta do
povo de axé.

Também da Casa de Iemanjá, Ana Cavalcante, filha de Xangô e de Oyá, vê o terreiro
construído por sua família para além do espaço de culto ao sagrado: como um local de resgate
de sua ancestralidade e identidade cultural. Para ela, as origens africanas da religião são uma
forma de afirmação racial. Ser do axé é uma forma de honrar seus antepassados e afirmar a
negritude latente em suas veias.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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