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Escadas da fama

 

Por Rebeca Alencar

 

Arte e Imagem: Iasmin Cardoso e Maria Clara Abaurre


As portas para o set de filmagem se abrem. À esquerda, como nos filmes populares,
uma drogaria… você já viu esse filme antes, certo? Errado. Tal qual um longa de mistério,
você percebe que algo está fora do lugar. Não é o lustre luxuoso no teto da drogaria, pode
não parecer, mas ele faz parte do cenário. Quem não faz, certamente, é você.

Na cenografia, as vitrines com iluminação precisa expõem artigos da última moda
francesa e italiana. Em sua grande maioria, todos de grifes tradicionais europeias e até
mesmo os frequentadores parecem ter saído de “As Patricinhas de Beverly Hills”. Tudo isso
na Zona Sul de São Paulo, em um dos shoppings de mais alto padrão do país.

O presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers, Glauco Humai,
justifica essas questões: o objetivo é afunilar o perfil de compradores e ditar o status do
local. “Os shoppings contam com lojas âncoras, megalojas, cinemas e outras marcas
famosas que atraem mais o interesse de determinados públicos”, explica. Olhando ao redor
e observando lojas como Gucci, Prada, Balenciaga, é de se imaginar o tipo de consumidor
que se busca atrair.

Nesse filme, Letícia Marques, funcionária de uma das lojas do local, se veste de atriz
com sua aparência, postura, e treinamentos profissionais constantes. Mas não se engane:
seu papel é estar sempre atrás dos balcões. Diz já ter presenciado uma única venda de 1,5
milhão de reais, já vendeu bolsas de 190 mil, e afirma que naquela quarta-feira sua loja já
havia feito várias vendas. Isso, às 18h da noite, ainda faltando 4h para o fim de seu
expediente.

Diretamente dos bastidores, Dona Sílvia, da equipe de limpeza, enquanto cuida e
prepara os camarins está sempre de olho em quem circula por aí e acha que há pessoas de
diversos perfis econômicos. Mas a assistente administrativa Beatriz Loiola, que só assiste a
esse filme e que nunca compraria uma bolsa de 190 mil reais, embora passeie, não vê
aquele espaço como seu. “A localização, o nome chique, as lojas caras, tudo isso é para
esse público”, diz ela, se referindo à elite paulista.

Esse longa pode ser um mistério. Mas e se for um romance, para os apaixonados
pela vida de luxo? Ou comédia, ao notar que lá uma simples caneta pode custar mais da
metade de um salário mínimo? Independente da resposta, existe um fato: aos olhos de
quem for, é difícil acreditar que seja baseado em fatos reais.

*Os nomes de Letícia e Sílvia foram alterados a pedido das fontes

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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