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Comendo por dois

 

Por Giovanna de Oliveira e Luiz Attie

 
Arte: Jorge Fofano

Uma mulher grávida sai em busca de jabuticabas, compra três quilos e os devora de uma vez. O resultado foi correr para um hospital com dores intensas e ter uma boa história. Isso, que parece cena de filme, foi vivido por Vânia Lira durante a gestação do mais novo de seus três filhos, há 12 anos.  

Seja por doces ou frutas, os desejos alimentares são muito comuns durante a gestação. Segundo Lídia Aragão, professora de medicina obstétrica na UFBA, dois terços das mães relatam algum tipo de compulsão por alimentos. 

Embora muitos acreditem que esses desejos na gravidez não sejam reais, a medicina e a psicologia os explicam. Para os obstetras, as vontades estão relacionadas a alterações hormonais.

Outro fator é o impacto da gravidez na via mesolímbica, parte do cérebro que produz a dopamina. Esse sistema conecta o apetite à sensação de recompensa, por isso que, ao saciar os desejos, a gestante fica satisfeita. Para Vânia, comer jabuticabas era como a alegria de receber um presente.

Solange Frid, mestre em psicologia na PUC-RJ, defende que os desejos não são apenas pelo alimento. “Existe uma necessidade emocional de ser provida por alguém”, explica.

A satisfação dos desejos também está ligada à antiga crença de que a criança nasça com a cara do alimento. Porém, não há comprovação científica de que o bebê tenha problemas caso a mãe não sacie a vontade.

No entanto, existe um limite para os desejos como algo saudável. Há um transtorno alimentar chamado picamalácia. A principal característica é o desejo por objetos não comestíveis. Segundo uma pesquisa de 2009 da UFRJ, 14,4% das grávidas têm a síndrome e, de acordo com Aragão, tudo melhora após o parto.

Mãe de quatro filhos, Cida Santos teve sintomas de picamalácia em uma de suas gestações – ela sentia vontade de comer filtro de barro. Para ela, o objeto gerava o mesmo desejo de um chocolate.

A picamalácia merece atenção devido às complicações, segundo Anna Karenina Azevedo, professora de nutrição na EACH-USP. O hábito pode causar infecções por parasitas e envenenamento, por exemplo. O transtorno pode estar relacionado, ainda, à deficiência de alguns nutrientes como ferro e zinco.

Já psicólogos apontam que a síndrome é uma resposta a um quadro de estresse. Uma a cada quatro mães sofre de exaustão na gravidez, como aponta pesquisa deste ano do Hospital Nacional da Criança. O processo de gerar um ser humano pode pressionar essas mulheres e ter efeitos prejudiciais à saúde dela e do bebê, como o hábito da picamalácia.

Colaboração: Liga Acadêmica de Ginecologia e Obstetrícia da Bahia

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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