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Corpos fechados para afetos

 

Por Ivan Conterno

 
Arte: Luisa Costa

Desinteresse nas coisas, indiferença no dia a dia e sensação de impotência, em casos extremos, pode ser um sinal de depressão. Os medicamentos, nesses casos, conseguem facilitar os impulsos elétricos entre neurônios, diminuindo apenas os sintomas. Não há uma única explicação biológica para a apatia ou a falta de interesse. O que se pode afirmar é que fatores orgânicos e psíquicos somam-se à influência do ambiente, muitas vezes determinante.

O cérebro possui um sistema de recompensa cujo principal mensageiro é a dopamina e esse mecanismo incentiva condutas que nos beneficiam. Do ponto de vista biológico, uma alimentação saudável e um ambiente agradável aos anseios é essencial para uma mente sã. Entretanto, as razões químicas sozinhas não explicam as convicções adotadas ao longo da vida que contribuem decisivamente na busca por essa carga de prazer.

As pessoas desejam ser desejadas e se frustram quando não são aceitas. A boa notícia é que deixar de querer o que a sociedade impõe não é, por si só, um inconveniente. Como o cérebro humano tem uma grande capacidade de adaptação, os desejos podem ser canalizados para novos tipos de satisfação. 

Algo parecido acontece com os chamados assexuais, pessoas que sentem pouca ou nenhuma atração sexual. Até o século passado, essas pessoas eram consideradas impotentes ou frígidas, mas hoje entende-se que não há desarranjos fisiológicos nelas, já que a dopamina pode vir através de outras atividades. Para o budismo tibetano, por exemplo, a satisfação de desejos pode ser encontrada não deixando que as emoções perturbadoras, como o consumo compulsivo, tenham grande influência.

As imposições da publicidade fazem com que as pessoas tenham cada vez mais impulsos que não se concretizam. Sempre surge um produto melhor que outro no mercado. Contudo, ao não manifestar o desejo, as pessoas desenvolvem neuroses que podem levar à depressão. A apatia é uma falta de lugar no mundo que leva ao isolamento e última instância ao suicídio. Nesses casos, é preciso uma assistência que ofereça meios para retomar a vontade de viver. 

Colaboração: Adriano Esteves, mestre em psicologia; Arilton Martins Fonseca, doutor em bioquímica; Giórgia Neiva, psicóloga e antropóloga; Girliani Silva, doutora em psiquiatria; Marco Antonio Caldieraro, doutor em psiquiatria; Maurício Ghigonetto, monge budista; Paulo Naoum, doutor em bioquímica; Paulo Bezerra, doutor em psicologia; Pinheiro Vermelho, do CEBB

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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