O desejo de controlar o outro é um mecanismo de defesa de pessoas ciumentas para se sentirem seguras em uma relação. “O ciúme é sinônimo de controle”, diz Nycole Magalhães, psicóloga pelo Cesmac e especializada em comportamento. Esse desejo é acionado constantemente por gatilhos, como ver a pessoa amada on-line no WhatsApp sem conversar com ela, ou sentir-se estranho ao ver o parceiro com amigos.
Sentir-se deixado de lado é um dos gatilhos em que o ciumento compete com outras pessoas para não ser abandonado. Isso pode acontecer mesmo em relacionamentos saudáveis, de acordo com Fidel Padilha, psicólogo pela UFPR e especializado em relacionamentos amorosos. “A pessoa ciumenta não consegue abaixar a guarda mesmo conhecendo alguém confiável, ela sempre está hipervigilante”, afirma.
Para entender o que se passa na mente do ciumento, Paloma Carvalhar, psicanalista pela Unesp, diz que o ciúme é o primeiro indicativo de que há algo errado ao levantar questões emocionais que precisam ser cuidadas porque é acompanhado de sentimentos de insegurança, ansiedade e medo do abandono.
Na literatura, há um retrato extremo do ciúme em “O Mouro de Veneza”, de Shakespeare, em que Otelo leva o sentimento às últimas consequências e assassina sua esposa ao desconfiar que ela o traía. Porém, descobre logo depois que ela era fiel e que tudo não passava de imaginação.
Nem todo ciúme termina em tragédia, mas é um alerta vermelho com potencial de corroer um relacionamento. A desconfiança pode provocar o afastamento do casal, ou seja, o oposto ao desejado pelo ciumento. O psicólogo explica que isso se chama “profecia autorrealizadora”, já que o ciumento pode sufocar a ponto do parceiro desejar ir embora.
O desejo de controle pode agir como um monstro invisível que atormenta uma relação, como aponta Padilha. Os ciumentos enxergam que sua existência depende de estar em um relacionamento, sendo o desejo de controle algo persistente.
Colaboração: Leide Batista, terapeuta cognitivo comportamental pela Faculdade Castro Alves