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O Éden no divã

 

Por Alessandra Barrozo e Manuel Savoldi

 
Arte: Jorge Fofano

Adão e Eva viviam tranquilamente no Jardim do Éden, paraíso na Terra. Só existia um porém: estavam vedados de comer o fruto do conhecimento. Seduzidos pela serpente, eles se rendem ao desejo e provam o gosto que lhes era proibido, sendo expulsos do Éden por terem transgredido a única regra que lhes havia sido imposta. 

Dentro do campo dos desejos, é comum que as coisas mais atraentes sejam aquelas que não temos – ou que não podemos ter. De acordo com Nazaré Almeida, especialista em terapia focada na compaixão e doutora em psicologia pela USP, isso é algo natural. “Em termos genéticos […], é saudável que todos nós sejamos curiosos”, diz Nazaré.

Aí emerge o desejo, que está longe de ser um botão que se aperta. É algo derivado do contexto em que está inserido, iniciando-se na mente para envolver o corpo. É o caso de pessoas que fantasiam loucamente ao pensar em um personagem de um filme – inalcançável –, somente para não ver graça nenhuma quando o mesmo ator revela-se em outro papel.

O desejo nessas situações é irreprimível, muito diferente da atitude que se pode tomar, absolutamente passível de controle. Em um contexto propício, o objeto de desejo pode ser percebido como a maior satisfação para nossas necessidades momentâneas.

Assim, é possível a rendição a um caso de infidelidade, ao não conseguirmos resistir a essa proposta de recompensa imediata, que, além de tudo, oferece um sabor extraordinário pelo ato da transgressão, pela adrenalina – algo libertador em um sistema recheado de restrições.

Em outros casos, um casal pode conscientemente procurar por essas sensações, que permitem um aumento na conexão dos pares, ao praticar algo que só os dois sabem e o resto da sociedade desaprova. É o que conta Willians Rego, proprietário da Code Club, uma balada para casais onde há a abertura para algo mais íntimo. Surge uma nova excitação: a apreensão de que esse desejo seja descoberto. 

Em uma relação, é comum desejarmos as ondas no mar revolto e, simultaneamente, uma âncora. Queremos o conforto, a intimidade. Ao mesmo tempo, ansiamos pela novidade, pela excitação, pelo frio na barriga. Em uma situação oportuna, as regras que nós mesmos nos impomos para um relacionamento confortável e seguro podem parecer as mais atrativas para serem desafiadas, como fizeram Adão e Eva.

Colaboração: Carla Ruiz, psicóloga especialista em terapia sexual; Diana Goulart, psicóloga especialista em psicoterapia e sexualidade

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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