logotipo do Claro!

 

É arriscado, mas confia

 

Por Gabriel Gama e Rodrigo Tammaro

 
Arte: Mariana Carneiro

Um idiota, um pastel. Com poucas palavras, o técnico de informática Pedro* descreve as primeiras sensações ao descobrir que foi vítima de um golpe. A história envolve investimentos, criptomoedas e começa com um erro: confiar na promessa de dinheiro fácil.

Pedro até sabia dos riscos: a rentabilidade de 5% ao mês oferecida no contrato é impraticável no mercado. Mesmo assim, ele entrou na onda dos amigos que há três anos depositavam dinheiro no negócio. Um deles era diretor da empresa que, cinco meses depois, faria Pedro se sentir um pastel.

Ele começou “colocando uma graninha”, foi seduzido e decidiu aplicar um pouco mais. Acabou investindo cerca de R$ 8 mil. É nesse convencimento que os golpes digitais costumam operar. “A origem da maioria dos golpes é um phishing, o discurso que conquista e seduz”, explica a economista e especialista em direito digital Elaine Keller.

“Não acredito em Papai Noel, mas caí no conto da sereia.”


O técnico de informática mordeu uma isca que atrai muita gente. Segundo o psicólogo financeiro Celso Sant’Ana, a ganância, o imediatismo e a expectativa de ganhar dinheiro de forma rápida são os principais fatores que induzem as vítimas a cair em golpes de investimentos. Só em 2022, mais de R$ 2,5 bilhões foram roubados por fraudes financeiras no Brasil.

Depois de fisgado, correr atrás do prejuízo é um tiro no escuro. De acordo com Leo Rosenbaum, advogado especialista em golpes, dificilmente as vítimas recuperam o dinheiro nos casos de investimentos em criptomoedas. “Normalmente são esquemas de pirâmide, as empresas quebram e você não acha os representantes porque está tudo no nome de laranjas.” Assim são chamadas as pessoas que oferecem os próprios dados para ocultar bens de terceiros.

Os amigos que já investiam no negócio justificaram que também foram enganados. Pedro diz acreditar nessa versão. Juntos, eles entraram com uma ação contra a empresa. “Mas ela não tinha um centavo no caixa, estava totalmente quebrada e os diretores com as contas bloqueadas”. Só restou se conformar.

“Eu ainda perdi um valor ok, mas teve gente que perdeu R$ 900 mil, perdeu tudo.”


Mesmo assim, os especialistas indicam o registro do boletim de ocorrência. Para Elaine Keller, isso chama atenção das autoridades, ainda que o dano não seja revertido. Ela explica que o aumento dos registros de crimes digitais levou a uma atualização na legislação brasileira, que agora estabelece uma tipificação específica para golpes com ativos virtuais. Atualmente, 43% das fraudes de investimento envolvem criptomoedas.

As vítimas cometem erros, mas não são culpadas. “Essas pessoas não são trouxas, elas foram encantadas”, diz Rosenbaum. O engano pode ser evitado recorrendo a instituições consolidadas na hora de investir e tendo cautela com ofertas muito tentadoras. Mesmo que elas venham de colegas. Como diz o ditado: amigos, amigos… negócios à parte.

*O nome da fonte foi alterado para preservar sua identidade.

Dados: Banco Central e CVM

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com