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E quando acontece?

 

Por Carolina Borin e Victoria Borges

 
Arte: Mariana Carneiro

Cerca de 55 mil pessoas morrem a cada ano no Brasil. Outras tantas carregam as marcas dos “erros médicos” ao longo da vida. O Conselho Federal de Medicina os definem como dano provocado no paciente pela ação ou omissão do médico, sem a intenção de cometê-lo; gerado pela imprudência, imperícia ou negligência.

Gilberto Camanho, ortopedista, viu colegas desistirem da profissão por medo de errar. A especialidade dele é a quarta mais denunciada por falhas em procedimentos. Em primeiro lugar, vem ginecologia e obstetrícia.

Roberta* passou por um quadro de diabetes gestacional, mas a condição estava controlada quando chegou ao hospital para dar à luz. No final do parto, um sangramento anormal alarmou a equipe médica. Eles optaram por colocar um acesso em seu braço para continuar com a medicação e facilitar a realização de procedimentos necessários.

No final do dia, quando o marido de Roberta pode visitá-la, percebeu que os dedos de sua mão estavam pretos e alertou a enfermeira. Os médicos disseram que ela provavelmente estava perdendo a circulação porque havia deitado sobre a mão, o que, segundo a vítima, era impossível.

Sem entender o que estava acontecendo, ela precisou ser transferida para outro hospital. A avaliação da condição veio 22h depois: era um caso de urgência e havia só 5% de chance da mão não ser amputada. O procedimento foi feito às pressas, já que a paciente foi transferida com pouca documentação. “Eu não quis fazer uma cesárea por medo da cirurgia, porém precisei passar por várias”, conta.

O caso está em segredo de justiça e foi solicitado apoio do Ministério Público e da Secretaria de Saúde. Enquanto isso, a mãe tenta contornar as dificuldades: “Já consigo dar banho no meu filho, trocar, pegar ele. Coisas simples que não conseguia fazer.” A advogada de Roberta conta que duas sindicâncias foram abertas, ainda sem resposta. Um registro de ocorrência também foi feito no início do ano e o processo segue em curso. 

Errar é humano, mas o cuidado precisa ser redobrado quando a falha interfere diretamente no outro. Na medicina, um deslize pode custar o bem-estar ou a vida de alguém. As vítimas lidam diariamente com as marcas da negligência e do erro — e não há indenização ou pedido de desculpas que apague isso.

*Os nomes da vítima e advogada foram alterados para preservar sua identidade

COLABORADORES: Fernando Polastro – Voluntário da ABRAVEM

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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