A expressão é usada para designar um equívoco básico que culmina em uma falha grotesca. Sua definição é por natureza subjetiva: vai de um tropeço, até uma grande queda.
O termo tem sua origem atribuída popularmente à derrota do general romano Marco Licínio Crasso na Batalha de Carras, em 53 a.C., Crasso invadiu o Império Parta sem consentimento do Senado, rejeitou ofertas de ajuda e esgotou seu exército ao marchar pelo deserto da Mesopotâmia. O resultado: uma das maiores derrotas de Roma, 50 mil mortes e o fim do próprio general.
O erro crasso daquele tempo ficou marcado na história. Mas, na nossa história pessoal, o que representaria um erro tão grotesco? Não valorizar o tempo que se passa com a família, errar o endereço de uma entrevista de emprego, deixar o carro morrer na prova de direção, não transferir a titularidade de uma conta. Cada pessoa tem sua própria definição.
O estudante João Francisco considera diferente um erro em um conceito ou fundamento de errar uma conta, por exemplo. Errar a base que fundamenta todo um pensamento é mais prejudicial do que sua prática.
Mas há quem não veja as coisas desse jeito: errar é essencial para aprender.
Jorge, vendedor de livros, pensa de forma semelhante. Para ele, viver é como preparar comida: se coloca um pouco de sal, um pouco de pimenta, e sempre ajustando para no final ficar gostoso.
Segundo os latinistas, “crasso” foi importado do latim crassus. O termo denota algo espesso e, por aproximação, grosseiro; a palavra precedeu a vida do general. Já era algo grotesco antes da grande derrota, mas é possível que tenha sido ela quem popularizou a expressão “erro crasso”. Aparecia nos dicionários brasileiros desde a segunda metade do século 19, provavelmente importado por via erudita.
Não se pode voltar no tempo — e é possível que, mesmo se pudéssemos, cometeríamos os mesmos erros cansados. Jorge opina: “O urbanista pode indicar a passagem dos pedestres e o arquiteto construir pontes. Mas, no fim do dia, quem trilha seu próprio caminho é o ser humano, que despreza trajetos prévios e busca sempre atalhos”.
COLABORADORES: Jane de Castro e Gilson Charles dos Santos, professores de latim na UnB; Pedro Paulo Funari, professor de história na Unicamp; Ricardo da Cunha Lima, professor de latim da USP; Fernando, Felipe, Eric, Brenda, Gabriel, Lorenzo, Marina, Erick e outros colaboradores anônimos