“Eu sempre escutei da minha mãe que eu precisava ser duas ou três vezes melhor do que qualquer outra pessoa para ser considerada igual”. O depoimento de Roberta Calixto, especialista em diversidade do Instituto Identidades do Brasil e coordenadora da organização As Josefinas, escancara uma realidade: a maioria das mulheres pretas não têm a chance de cometer erros durante sua jornada profissional.
Tal expressão do racismo é sentida desde a infância. A falta de letramento racial em parte do sistema de educação se manifesta contra crianças pretas que, muitas vezes, são desmotivadas em sala de aula e tratadas como caso perdido. Se apresentam um desempenho baixo, por exemplo, são inferiorizadas.
Quando adentram o ambiente corporativo, não demora para que as dificuldades impostas por uma sociedade racista continuem. Laiz Carvalho, economista chefe e fundadora da Black Swan, recorda que, ao olhar para o topo das empresas, não encontrava pessoas parecidas com ela.
Atravessadas pela violência, profissionais pretas têm suas experiências coletivizadas e carregam a missão de representar todo um grupo. Qualquer tropeço, por menor que seja, se torna argumento para a propagação de discursos semelhantes a “já contratei uma mulher preta para esse cargo e não deu certo”.
Com a avaliação constante de possíveis deslizes, o ar se torna ainda mais rarefeito para a diversidade nos postos de liderança das empresas, aponta Rachel Maia, ex-CEO da Lacoste no Brasil. Ao atingirem o topo, outra imposição é estabelecida: o que elas farão com o próprio legado? “O peso de ser ‘a única’ ou ‘a primeira’ é constante”, afirma Laiz.
Em meio a tantas expectativas, a conta também chega para a saúde mental dessas mulheres. Com a exigência de serem fortes a todo tempo, até mesmo o papel de vítimas lhes é negado. Cruel e enlouquecedor, o racismo tenta convencê-las de que a intolerância não existe.
Conceição Costa, psicóloga e coordenadora geral da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es), destaca que esse quadro exige um esforço mental e emocional elevado. A discriminação racial tende a potencializar doenças como ansiedade, depressão, Síndrome de Burnout e muitas outras patologias.
Os danos para a saúde mental refletem a disparidade de oportunidades que ainda domina o país. Roberta, Laiz e Rachel fazem parte dos 3% de mulheres pretas que ocupam cargos de liderança no Brasil — mas elas não ficarão sozinhas por muito tempo. A partir de suas organizações, auxiliam na construção de um mercado diverso e inclusivo.
COLABORADORES: Kelly Baptista, diretora-executiva da Fundação 1Bi; Consultora Gestão Kairós.