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Um futuro à deriva

 

Por Caroline Kellen, João Francisco Aguiar e Valentina Candido

 
Arte: Mariana Carneiro

Você tem que escolher o que quer fazer da vida. Tem que trabalhar. Tem que parar de se escorar na sua família. Tem que ser independente. Tem que se encontrar logo. “É como se nada que fizéssemos fosse suficiente, ou tudo tá errado”, desabafa Jaine, 20 anos.  

Há pouco tempo ela tinha começado um estágio na prefeitura depois de passar por alguns bicos. Foram 3 anos de pouca perspectiva e muita cobrança. “O dia que eu terminei a escola em 2019 foi um choque. Fiquei me perguntando: meu deus, o que que eu vou fazer agora?”. 

 Jaine quer ser a primeira pessoa graduada da sua família, mas o tamanho do sonho fez com que ela tivesse dificuldade para decidir qual caminho seguir, ao passo que enfrentava a falta de apoio de pessoas próximas. 

E a estudante não está sozinha. Sobrecargados de dúvidas, somam-se os jovens presos na inércia – em 2018, 23% dos brasileiros entre 15 e 24 anos não estavam trabalhando nem estudando, segundo pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento. 

Satya Doyle é psicoterapeuta nos Estados Unidos e escreveu um livro para entender o que está acontecendo com os novos adultos. Ela conta que o cenário socioeconômico colocou em xeque marcos considerados importantes para o início da vida, imergindo os jovens em uma onda de procura existencial. “Se as pessoas estão questionando as estabilidades do planeta e os governos sob os quais vivem, participar cegamente da economia ou constituir uma família deixa de ser o suficiente”. 

“Dá a entender que a nossa geração não quer grandes desafios, nada com a dureza, justamente porque muitas vezes o que está no campo do conhecido e foi apresentado como a vida possível para a gente não interessa”, explica Mariana Carvalho, 24 anos, que no dia da entrevista acabava de trancar o curso de Direito na UFMG para ingressar em Antropologia. 

A mudança faz parte de um sonho maior de passar a vida em um barco, velejando. Por 5 anos, ela circulou por diferentes espaços até chegar onde está hoje. Mas ter uma escolha não significa o fim das inseguranças. “Existe um medo nesse processo porque fica muito claro que não tem garantia”, explica. Ainda que trabalhe e tenha seus próprios recursos, há uma dúvida que a acompanha: “Será que vou conseguir fazer isso que eu quero?”. 

Inventar o próprio caminho não vem com um tutorial. Com opções infinitas e sem metas ditadas, o jovem pensa: “qual vai ser o meu sucesso?”. Sem prova de admissão, sem uma entrevista para dizer se sim ou se não. Para Mariana e tantos outros, o sucesso é a construção inteira. É saber lidar com os “serás”.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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