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Além da pele

 

Por João Pedro Barreto e Regis Ramos

 

O ser humano tem uma capacidade de regeneração um tanto limitada. Basta um corte mais profundo, a exposição a temperaturas altas, uma pancada forte demais, e estaremos marcados pro resto de nossas vidas. Quem dera fôssemos como uma estrela do mar, por exemplo, que ainda que perca uma perna ou outra, consegue se regenerar sem deixar resquícios do sofrimento que passou. Mas, ao contrário delas, nós somos habituados a carregar marcas. De todos os tipos, tamanhos e com variadas histórias.

Giulia Dias, tem 25 anos e, atualmente, é modelo profissional, mas, aos 9,  sofreu um grave acidente de carro e carrega consigo uma marca que atravessa seu rosto inteiro. Gi Charaba, 36, também modelo e criadora de conteúdo, descobriu um câncer de mama aos 29 anos, no auge da sua carreira, tendo que passar por uma cirurgia de remoção do seio esquerdo. A cirurgia está lá, marcada em seu corpo até hoje.

Nenhum ser humano está preparado para receber o impacto de eventos tão extremos, como os vividos por Giulia e Charaba. Por isso, esses episódios atípicos da vida são tidos pela psicologia como situações traumáticas. Segundo Christian Haag Kristensen, psicólogo e docente em Psicologia na PUCRS, em média 70% dos humanos passam por fatos traumáticos na vida, e uma porcentagem desses acabam desenvolvendo traumas a partir desses acontecimentos.

É a forma com que reagimos após as situações e o significado que damos a elas que define o que será para nós dali em diante. Giulia conta que nunca viu sua cicatriz de forma negativa. “Olhando meu rosto pela primeira vez após o acidente, aceitei tudo muito rápido e pensei: é isso, tenho uma cicatriz, vamos viver.” 

Aos 12 anos, Giulia foi levada por sua mãe a um cirurgião para analisar a possibilidade da remoção de sua marca. Ela não sabia do objetivo da consulta e conta que recusou a proposta.

Por outro lado, Charaba passou por um processo mais duro e, inclusive, já fez procedimentos para amenizar sua cicatriz. “Me doeu muito na primeira vez que eu vi meu corpo depois da cirurgia, dói ainda. Mas eu sobrevivi, estou viva. Me pus de pé, vi que estava tudo bem, são só cicatrizes. E segui”. 

O cirurgião plástico, Alexandre Meira, conta que esse tipo de tratamento visa melhorar a pele do ponto de vista estético e funcional, mas não só isso. Para ele, a função do médico é, além de cuidar da marca no corpo, tentar amenizar a ferida da alma. 

Kristensen explica que a memória de situações geradoras de traumas podem influenciar os sentimentos de uma pessoa ainda que muitos anos depois do ocorrido. É como se os sentimentos daquele momento fossem transportados para os dias atuais. Para pôr esse evento em seu devido lugar, no passado, é preciso rever o significado de sua marca.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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