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Urupá: terra sem fim

 

Por Carolina Borin e Emilly Gondim

 

Talvez o sonho de sua mãe ou avô fosse ganhar dinheiro suficiente para comprar um terreno no interior. É de fato importante ter onde morar, um lugar acolhedor, uma conquista. Uma propriedade em que se tem rentabilidade e garante uma posição social. Porém, para os povos indígenas, essa lógica capitalista e de propriedade não se aplica à terra.

A terra é algo sagrado para os povos originários, uma marca. A comunidade e a natureza são um só. “O nosso criador fez a terra para a gente se nutrir dela, para se abençoar dela, para mantê-la fortalecida e se fortalecer com ela”. É o que conta Karaí Mirim Guarani, do povo Guarani, secretário geral da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas.

A interação com a terra baseia-se no coletivismo e na cosmovisão, que vê a natureza como algo coletivo e na qual o ser se integra. Nas comunidades que se mantêm nas florestas, o responsável pela caça partilha o alimento. Para entrar na mata ou para se alimentar dos frutos, é necessária uma permissão espiritual desse ente maior, a própria natureza.

Essa relação impacta também na preservação das terras. Estudos científicos comprovam que, comparado às áreas privadas, as terras indígenas têm, nos últimos 30 anos, uma perda de vegetação menor. Nelas, também é maior a capacidade de absorção de poluentes pela vegetação.“Quando a gente fala em proteger a terra, falamos de proteger nosso espírito e o nosso corpo, porque sem a terra a gente não é nada”, pontua Karaí.

Numa perspectiva oposta, está a lógica do capital. Enquanto os povos indígenas enxergam a terra como parte de seu próprio corpo; grandes latifundiários, o agronegócio e a mineração enxergam o território como uma possibilidade de lucrar ainda mais, explorando e degradando. 

Esses grupos defendem o Projeto de Lei (PL) 490/2007, conhecido como Marco Temporal, que propõe a demarcação de terras apenas para aquelas ocupadas no dia da promulgação da Constituição de 1988. Em junho de 2023, o PL está em tramitação no Senado Federal. “Ele tritura a história anulando tudo que ficou para trás, todas as mortes, todos os crimes e rotula os indígenas como invasores”, diz Marcos Subaru, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.

Chirley Pankará compõe a equipe do Ministério dos Povos Indígenas e afirma: “O Marco Temporal transforma o que é sagrado, cosmológico e memória em capitalismo”. A mesma terra que é alvo de conflitos políticos carrega o sangue dos antepassados que reivindicaram o direito de estar e ser nesse território.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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