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carta à rede

 

Por Pedro Fagundes

 

Arte: Breno Queiroz e Lucas Tôrres Dias

Carta: meio indireto de comunicação. Somente na Bíblia cristã são 20 delas – 14,6% de seus livros. Ou seja, falar com o outro, à distância, já é moda desde que o mundo é mundo. Durante os milênios, serviram de informes de guerra, protestos políticos ou, simplesmente, boletos bancários.

Em 1936, o instituto norte-americano Student Letter Exchange prometeu renovar a prática. O Pen Pal nasceu com o propósito de relacionar estudantes de diferentes países – promovendo a troca de experiências por correspondência. O programa chegou ao Brasil 40 anos mais tarde – na década de 1980. Ainda hoje, 2023, conecta, por ano, mais de 500 mil alunos em 100 países mundo afora. 

Fernando Tadeu, 36, fala como a ideia de trocar cartas com pessoas de outros cantos do globo sempre pareceu fascinante. As ambições eram múltiplas. Desde encontrar o amor prometido em solo estrangeiro, até o aprendizado de uma nova língua. Há quem diga que a espera – de um ou dois meses – pela resposta era o que dava graça ao exercício.

Em fevereiro de 2017, foi lançado o aplicativo Slowly. A proposta era simular, na interface do smartphone, a tradicional demora da troca de correspondências. Camila Mendonça, 22, foi uma das 7 milhões de pessoas que entraram nessa onda. Seu intuito, como muitos dos antigos usuários do Pen Pal, era aprimorar um idioma estrangeiro, o inglês. Desse modo, foi em busca de destinatários internacionais. 

O apego à morosidade dos bilhetes, porém, não serve de regra para todos. “Apesar de divertido no início, sempre desistia – fosse pela demora ou pela preguiça”, conta Júlia Moraes, 21. Conectar-se, para as novas gerações, exige imediatez. Não à toa, enquanto 5 bilhões de cartas viajam pelo país, anualmente, o número de mensagens trocadas no WhatsApp supera os 100 bilhões por dia.

Assim, selos e envelopes são substituídos por jogos, comunidades on-line e redes sociais. Sem ambições planejadas, habituais ao Pen Pal, a construção de amizades virtuais flui quase despretensiosamente. O vínculo vira consequência do meio, não o contrário – são os interesses comuns quem ditam o jogo.

Rafael Lopes, 26, sempre seguiu a mesma lógica. Era tímido. Não só isso. Ainda aos 12, percebeu que não se encaixava no estrato imposto pela família, bairro ou escola. Foi, então, apartado da sufocante presencialidade, onde obteve a confiança para desabafar e se encontrar enquanto pessoa. À distância, a carta – imediata – virou refúgio.

Colaboradores: Marina Souza e Rodolfo Rangel

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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