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entrelaçados

 

Por Luisa Hirata

 

Arte: Breno Queiroz e Lucas Tôrres Dias

Dentre tantos encontros vividos diariamente, carregamos na memória, no coração e no corpo aqueles mais marcantes. Quando a rotina estaciona na monotonia, me pego fantasiando com esses momentos, no anseio por um cometa bom que atinja os dias com uma nova paleta.

Hoje é sexta-feira, bar de sempre. Enquanto espero um amigo chegar, noto, na mesa ao lado, duas mulheres risonhas, animação transbordando na voz e nos gestos. Não resisto e me esforço para ouvir o máximo da conversa.

“A gente se trombou na escada e na hora que eu olhei pra ele, me deu uma coisa, pensei ‘Meu Deus. Quem é esse cara’. Aí minha amiga disse ‘Tamo indo pra um barzinho’, e ele simplesmente virou pra mim e falou ‘Vai lá!’, aí eu respondi ‘Tá bom, eu vou!’. Cheguei correndo. Na hora que ele me viu, falou ‘Nossa, que bom que você veio, eu tava ansioso’. E eu: ‘Eu também!’. Nossa, rolou uma conexão muito louca ali… a gente viveu umas três semanas muito apaixonados.”

Novela na vida real? Boquiaberta, viro o rosto na direção oposta à dupla e avisto meu amigo me procurando. “Será que vamos ter um bom encontro, à la Espinosa?”, cumprimenta. Ele é vidrado em filosofia, e outro dia me contou um pouco sobre a teoria desse pensador do século 17.

Espinosa chama de encontros, ou “afecções” (termo que ele mais usa), qualquer contato que tivermos com o que nos é externo: outros corpos, vivos ou não, opiniões, ideias. Eles fazem variar o nosso “conatus”, palavra em latim que significa “esforço” e que ele define como a “potência de agir e existir”. A potência é o que nos leva a perseverar na existência, tanto na dimensão corporal quanto psíquica, e é a essência de todos os seres, vivos ou inanimados.

Um encontro é bom, então, quando aumenta nossa potência, nos favorecendo. Já o causo que um primo teve o desprazer de viver… “A salsicha com molho de um hotel de Petrópolis, ​​ela falando comigo, eu falando com ela, meu estômago subindo, subindo, subindo até a garganta. Você sente gosto de veneno.” Ficou mal por dias, coitado.

Se enquanto existirmos estaremos nos encontrando com tudo, com a potência em constante variação, nunca somos o que éramos momentos atrás – o que vale, de igual modo, ao que nos é exterior. Bons ou ruins, a única certeza sobre os encontros, nessa concepção, é a surpresa. “Ei”, meu amigo me puxa do devaneio. “Faz tanto tempo que não nos vemos. Vamos brindar?”

Colaboradores: Antônio David, Fernando Andrade e Luís Antônio Ribeiro (filósofos). Anelise Vieira, Du Quadros, Fernanda Correa, Jose Rafael Alves, Marla Rodrigues e Raphael Ferraz (personagens).

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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