
Arte: Breno Queiroz e Lucas Tôrres Dias
Ferramentas criadas com o intuito de aproximar as pessoas e promover relações também estão sendo utilizadas como meio para a execução de golpes. O chamado Golpe do Amor, ou Golpe do Tinder – que recebe o nome do aplicativo de relacionamento mais popular do mundo –, teve seus primeiros registros em São Paulo em 2021.
O delegado Fábio Nelson Fernandes, da Divisão Antissequestro (DAS) da Polícia Civil, explica que o golpe acontece quando a vítima é atraída por meio de um aplicativo de relacionamento. Na maioria dos casos, o golpista sugere um encontro após um período de conversa e, próximo do horário marcado, pede para a vítima se dirigir a outro endereço. Com as vítimas em mãos, há a movimentação financeira, normalmente através do pagamento instantâneo brasileiro (PIX).
Conforme o delegado, homens, de 30 a 60 anos, são os principais alvos das quadrilhas. Isso pode estar atrelado à condição machista do homem, que questiona menos se uma mulher tem interesse em sair de primeira. “A autoestima do homem hétero pode ser uma grande inimiga nesse contexto”, aponta a psicoterapeuta Louise Madeira.
O claro! entrou em contato com usuários de aplicativos de relacionamento, e um alerta que surge é quando a pessoa é “a melhor do mundo”, nas palavras de Camila*, ou o “perfil perfeito”, “que nunca que te questiona e fala que tudo o que você faz legal”, segundo Fernando*. De acordo com peritos em segurança digital, esse comportamento é um dos gatilhos de atenção.
Jeferson* conta que quando a pessoa do outro lado da tela parece perfeita, “ela quer se encontrar muito rápido”. A pressa é um fator de risco apontado pelos especialistas, que indicam videochamadas, encontros em locais públicos e cautela na utilização das plataformas. Com a alta dos golpes, a desconfiança é determinante para Christian*: “Sempre que vou marcar um encontro e fico com uma pulga atrás da orelha, mesmo que não tenha nada que incrimine a outra pessoa, prefiro desmarcar”.
Em 2022, no auge do golpe, a DAS atendeu 115 casos. Diante da situação, os aplicativos têm adotado políticas para preservar os usuários. Algumas plataformas, como o Tinder, passaram a verificar os perfis, disponibilizar chamadas de vídeo e excluir contas de mal-intencionados, seja pelo próprio sistema que identifica padrões agressivos ou pela denúncia. Para os especialistas, esses mecanismos devem aumentar a segurança dos usuários e reduzir o número de golpes.
*Usuários de aplicativos de relacionamento que optaram por ter o nome preservado
Colaboradores: Wanderson Castilho, perito em crimes digitais, André Sacramento, advogado, assessorias do Nubank e Tinder