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Luz, câmera e vish…quebrou

 

Por Thais Morimoto

 

Arte: Gabriel Eid

No fim de 2023, com a regulamentação da Lei Paulo Gustavo, o setor cultural do Brasil recebeu quase R$ 4 bilhões, o maior investimento na área da história do país. Apesar da marca, nem todas as produções cinematográficas nacionais são contempladas com os recursos, muitas ainda dependem de improvisos nos sets de filmagem.

É o caso do cinema de guerrilha, feito com baixo orçamento. O cineasta Gabriel Castro explica que, com a limitação dos recursos e a competição acirrada entre as produtoras pequenas, há uma barreira de entrada no mercado audiovisual. O cineasta André Okuma, por exemplo, que faz cinema em áreas periféricas, somente conseguiu investimento do governo com essa lei de 2024.

“Como fazer um filme que seja interessante do ponto de vista estético ou narrativo sem o equipamento necessário?”, questiona Okuma. Uma das soluções é recorrer a improvisos. Com uma câmera em cima de uma caixa de papelão e um skate ele conseguia fazer cenas de movimentos em lugares planos sem ficar aquela tremedeira. “A gambiarra é elemento fundamental para a construção estética e política desse tipo de cinema”, explica.

Mesmo com mais alternativas, produtoras mais consolidadas também têm dificuldades em fazer cinema no Brasil. Segundo o cineasta Roberto Moreira, as gambiarras se tornaram menos necessárias com a entrada de novas tecnologias e profissionalização do cinema nacional, a partir dos anos 1990, mas ainda não é suficiente. Para ele, o Brasil não dispõe de recursos para fazer cenas como explosões e acidentes e o improviso poderia colocar em risco a equipe e os atores.

Mas há pequenos truques: a fita crepe sempre está nos sets de filmagens e é comum colocar na hora da montagem palavras na boca dos atores que eles não disseram nas gravações. Mesmo assim, Moreira diz que não se pode definir algumas soluções como gambiarra. No filme “Cidade de Deus”, na cena em que a galinha foge e as pessoas correm atrás, foi usado um cabo de vassoura preso em uma câmera e uma pessoa da equipe foi atrás da galinha em uma cadeira de rodas. Apesar de parecer uma gambiarra, Moreira diz que houve um grande domínio técnico e que a equipe sabia o que estava fazendo.

Com entraves ou não, o cinema continua a se reinventar e tornar possível “fazer chover” com uma mangueira. De acordo com a roteirista Luiza Fazio, “independentemente do processo, é muito emocionante ver o resultado final”.

Colaboradores: Carolina Durão, Giuliano Cedroni e Josafá Veloso, cineastas;  Vinícius Nascimento, diretor de efeitos especiais; Letícia Pereira, crítica de cinema; Fábio Leão, técnico de som

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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