Todos já choraram ao menos uma vez na vida, nem que apenas quando recém-nascidos. Essa é a primeira forma de expressão que todo ser humano, sem falta, mostra para o mundo. Para os médicos, é quase como se o bebê falasse “nasci e estou bem”. Para o pequeno, é a forma de dizer que ele está com medo, que o ambiente é estranho quando comparado ao calor do útero materno.
Por si só, o choro é uma forma de comunicação. Mas não são só os bebês que, por falta de ferramentas mais elaboradas, encontraram outras maneiras de se comunicar. As pinturas rupestres, por exemplo, eram uma forma de retratar os eventos, o cotidiano, os animais da convivência dos antepassados.
Já a escrita sistematizada, que deu as caras na região da Mesopotâmia — o “berço da civilização” —, surgiu junto aos famosos hieróglifos, que estavam no Egito, só por volta de 3.500 a.C.
Quem vê essas manifestações consegue, assim como quem analisa as lágrimas de um recém-nascido, interpretar algo e receber alguma mensagem — logo, há um tipo de comunicação.
Thalles, de apenas um mês, “se comunica do jeitinho dele”, conta Manuella, mãe de primeira viagem. Ele chora, seja quando tem fome, um barulho alto que machuca seus ouvidos, uma luz forte demais para seus pequenos olhos que mal abrem. Mas por que ele, mesmo sem saber fazer pinturas rupestres, escrita sistematizada e hieróglifos — técnicas de comunicação que consideramos mais avançadas —, acha uma maneira de demonstrar o que sente?
O incômodo, o choro como alerta, o riso como sinal de felicidade, o grito como desespero: só faz sentido se comunicar se existir alguém para responder. Às vezes nem é preciso uma resposta, apenas a sensação de possivelmente ser ouvido. “A expressão não é condição para a existência da comunicação, ela só vai existir quando a minha existência, o meu lugar no mundo, for reconhecido pelo outro”, diz Claudenir Modolo, doutor em Ciências da Comunicação.
Nesse contexto, a razão de nos comunicarmos seria a alteridade, reconhecer o outro é o que torna isso possível. Apenas se expressar, não é, necessariamente, comunicação. Na essência, ela nos tira de uma solidão, um fechamento em nós mesmos, um egoísmo.
E, sim, quando Manuella diz “quando meu filho sorri, mesmo que talvez seja um espasmo, me emociona, dá vontade de chorar”, é uma forma de comunicação. A mãe encontra, nas expressões do filho, tudo o que precisa para interpretá-lo até ele aprender as pinturas, a escrita e a fala.