Quanto tempo do seu dia você dedica à leitura de uma notícia completa? Refletindo sobre sua rotina, perceberá que passa muito tempo nas redes sociais, mas raramente lê uma reportagem até o fim. O que talvez não saiba é que veículos de mídia monitoram como você consome conteúdos jornalísticos.
Esse é o trabalho de Camila Marques, editora de digital e audiência da Folha de S. Paulo. Todo dia, ela acessa as métricas de engajamento do jornal, atualizadas a cada três segundos: matéria mais acessada, tempo de leitura, duração da interatividade. A partir disso, Camila traça estratégias para ampliar essa audiência.
Em contrapartida, o jornalismo tradicional é ensinado a se expressar sem depender do interesse do público, e sim a partir do interesse público – temas importantes que impactam a sociedade. Mas a oposição maniqueísta, que separa esses dois elementos, já não faz sentido. Na era digital, o conteúdo é distribuído por meio de algoritmos que criam bolhas sociais e o jornalismo precisa encontrar formas de atingir o seu público para sobreviver.
Marcel Hartmann, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que esses dois fatores podem se equilibrar e dialogar. Com uma maior horizontalização na escolha de pautas, o jornalista deve entender as demandas do público, e não se isolar de seus leitores.
Dentro desse diálogo, o uso de pautas pop, tão demonizadas pelo jornalismo, também foge dessa lógica maniqueísta. O entretenimento, como forma de informar e de se aproximar do interesse do público, permite que o jornalismo tenha a oportunidade de não se isolar em preceitos moralistas.
A participação do público é importante para entender como o jornal pode melhorar sua performance, mas manter sua independência. Marina Dias, chefe de comunicação da Agência Pública, conta que há uma postura de ouvir e entender críticas construtivas, mas se mantém resiliente diante de opiniões negativas a pautas essenciais à sociedade.
Com a perda do monopólio da informação e disputa pela atenção nas redes sociais, o jornalismo precisa aprender as regras das plataformas. O SEO (Search Engine Optimization), por exemplo, melhora o ranqueamento dos textos.
Para isso, Eliseu Barreira Junior, head de digital na Globo, aponta um caminho. O modelo user needs do jornalista da BBC Dmitry Shishkin propõe entender as necessidades do público para que o jornalismo tenha seu melhor desempenho ao informar e apresentar diversas perspectivas. Um leitor que procura se manter atualizado, por exemplo, pode promover uma cobertura contínua de um determinado fato e seus desdobramentos.
Se você procurasse termos como interesse público ou jornalismo, talvez esse texto fosse sugerido para você. Por outro lado, caso o seu algoritmo não esteja adaptado a esse tema, talvez você nunca o encontre.