No longínquo 2010, quando a internet ainda se difundia no Brasil, a então presidente Dilma Rousseff deu uma entrevista que se tornaria um dos memes mais virais dos anos seguintes, com quase 3 milhões de visualizações no Youtube. “Não acho que nem quem ganhar ou quem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”.
Hoje a fala pode ter um tom profético, mas na época era só um dos tantos memes que ironizavam a presidente. A zoação com políticos não era novidade. Na televisão, o finado Casseta & Planeta já fazia isso em 1992, zombando das suspeitas de corrupção no governo do ex-presidente Fernando Collor.
“O humor é algo muito antigo, mas o meme é uma forma de expressão que alia não só humor, mas também tem um pé na realidade que as pessoas conhecem. Por isso faz tanto sucesso”, afirma Rodrigo Carreiro, doutor em Comunicação pela UFBA.
Segundo uma pesquisa de 2019 do DataSenado, 45% da população teve o voto influenciado pelas redes. No ano anterior, Jair Bolsonaro foi eleito presidente após utilizar memes para viralizar em redes sociais como Facebook, Twitter e Youtube, nas quais possuía conta desde 2009.
Para Carreiro, o funcionamento da internet é dinâmico e os memes virais são como ondas que se aproveitam de acontecimentos do dia a dia e se acumulam. “Quanto mais tempo ela se dissipa, maior volume de conteúdo ela gerou para impactar uma eleição”, diz.
Uma das ondas mais recentes afogou o ministro Fernando Haddad, que virou “Taxad”, “Zé do Taxão” e até mesmo “Taxa Humana”, após o fim da isenção de tributos para compras internacionais.
Para Honorato, criador de alguns desses memes, a ideia é criticar o que ele discorda em tom de brincadeira. Seu conteúdo começou a viralizar durante o governo Bolsonaro. “A impressão que eu tenho é que a esquerda faz memes mais voltados para a elite, enquanto a direita consegue alcançar o povão”, afirma.
Para Marcos Nobre, autor do livro Limites da democracia: De junho de 2013 ao governo Bolsonaro, os memes de direita são beneficiados pela forma como a rede espalha os conteúdos. “Essa capacidade de mobilização da extrema-direita tem a ver com o algoritmo. Eles não têm nenhum tipo de limite na zoação, fazem memes abertamente preconceituosos e essa radicalização traz cliques”, diz.