Arte: Ester de Brito
“Promete que não conta pra ninguém?” É o que se diz quando se está prestes a arrancar do peito aquilo que está te perturbando faz tempo. O ato de compartilhar um segredo tem um quê de ilicitude, como dividir um tesouro roubado, ou uma maldição. O ditado popular diz que essa promessa foi feita para ser quebrada.
Há todo um gênero de programas – geralmente podcasts ou vídeos – em que as pessoas voluntariamente expõem suas histórias pessoais, ocultando a identidade, para o mundo todo. É o caso do Clube do Erro, podcast em que Agnes Brichta, Ana Hikari e Nina Tomsic leem todos os dias um relato enviado pelos ouvintes, lidando com dilemas emocionais e éticos.
Naturalmente, uma boa audiência nesses quadros gera lucro para quem faz e é entretenimento para quem ouve as fofocas – mas e quem manda seus casos, o que tem a ganhar? Por que alguém revelaria que se esqueceu do Dia dos Namorados naquele ano e acabou presenteando com um pão caseiro dado por uma colega? As apresentadoras do Clube acreditam que o programa dá ao público um espaço para desabafar e se sentir menos sozinho nos seus conflitos, no espírito do “todo mundo erra”.
A psicanalista Priscila Gasparini explica que, embora os segredos tenham o seu motivo de ser – para manter a harmonia social ou a segurança de alguém, por exemplo –, eles podem ser um fardo emocional para quem os guarda. O impulso de contar existe porque buscamos modos de aliviar isso: com validação e apoio.
O que corrobora com essa resposta são os estudos do professor Michael Slepian, da Universidade de Columbia. De 2012 a 2021, ele investigou a psicologia dos segredos. Ele concluiu que guardá-los a sete chaves é capaz de causar estresse, isolamento, queda na produtividade e falta de disposição física. A neuropsicanalista também destaca que a pressão interna pode ser tão grande que acaba afetando a autoestima, a identidade e a sensação de autenticidade.
No fundo, todos nós, em algum nível, somos como a personagem cujo namorado está fingindo ter amado a focaccia improvisada de segunda mão, enquanto ela finge que pensou com todo o carinho no presente. Compartilhar histórias é essencial e constitui as relações humanas, seja em particular ou anonimamente, para uma ampla audiência. O segredo tem a ânsia de se expandir além do baú em que é contido.