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OS QUE SE ESCONDEM NO SUBTERRÂNEO

 

Por Gustavo R. Silva e Julia Ayumi

 

Arte: Alessandra Ueno

Não é novidade que conteúdos de todos os tipos podem ser encontrados na internet. Mas recentemente, conteúdos extremamente problemáticos ganharam espaço nas redes sociais. Competição de jejum entre jovens com transtornos alimentares, incentivo a automutilação, instruções de como praticar furtos e até mesmo vilipêndio de cadáveres são alguns exemplos.

Um relatório do Núcleo Jornalismo (2023), revelou subcomunidades virtuais acessadas majoritariamente por jovens, de forma anônima, com fotos e nomes fictícios. Segundo Tatiana Azevedo, uma das autoras da pesquisa, as “subs” não são necessariamente criminosas, já que podem ser constituídas por pessoas com alguma condição patológica, como transtornos alimentares. Porém, algumas delas infringem a lei com frequência.

“A gente mandou muito bem nessa, tá maluco. Quase fomos pegos na leitura, tavam muito em cima da gente mas deu tudo certo. Não faço ideia de quanto deu, chuto uns 400-500 reais”, diz uma publicação no X, acompanhada de uma foto com vários produtos, supostamente furtados. A pesquisa estima mais de 10 mil usuários envolvidos nesses grupos apenas no X.

Adolescentes, em fase de construção de identidade, são especialmente vulneráveis e se conectam a essas subcomunidades em busca de conexões. Para o psicólogo Gerson Alves, “a condição de criança e adolescente é um campo minado para ser e para se ter influência de terceiros, porque ainda são mentes em construção”.

Esses grupos preferem operar discretamente, sem autopropaganda, criando espaços de pertencimento que escapam à supervisão pública. Plataformas como o X e TikTok utilizam algoritmos que recomendam conteúdo com base nas interações dos usuários, que acabam formando grupos de interesse comum. “Por exemplo, se eu sigo as contas A e B e a conta C também interage com A e B, o aplicativo irá me recomendar que eu siga a conta C”, conta Tatiana. 

A forma que os membros encontram para se “proteger” é não interagir com contas que não façam parte das subcomunidades, evitando o vazamento de suas postagens. A prática tende a funcionar, mas não impede que alguma postagem seja descoberta pelo mecanismo de busca da plataforma, por exemplo. Nesses casos, mesmo ocorrendo exposeds, as postagens costumam ser deletadas, perfis são brevemente trancados e logo tudo retorna à ‘normalidade’.

Colaboradora: Sofia Schurig, repórter de tecnologia do Núcleo Jornalismo.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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