
desligue a sua câmera. ligue o seu microfone. personalize seu corpo: pele, cabelo, roupas, brinquedos e até fantasia. escolha o seu nome. fique à vontade e relaxe. entre no metaverso.
quando a altura, largura e profundidade não são suficientes para o mundo carnal, é preciso recorrer a uma nova dimensão, ou melhor, a um novo universo. o instituto de tecnologia e sociedade (its) define esse espaço como “a convergência do mundo físico com o mundo digital”. quer saber quem eu sou? sentir quem eu sou? veja meu avatar, ouça a minha descrição e imagine. sou eu, de verdade. eu me reconheço no metaverso e me sinto parte dele.
pensados pela primeira vez em 1992 no livro snow crash de neal stephenson, os avatares virtuais jamais imaginariam que a ficção se tornaria realidade aqui. desde ambientes de educação e trabalho até exposições e shows, o metaverso se popularizou em jogos 2d, mas logo evoluiu para o 3d e até para a realidade virtual, ainda conectada com o mundo real.
foi jogando roblox, plataforma construída pela comunidade, que maria e vinícius começaram seu relacionamento. eles se conheceram como @marysvraa e @vinimahagy em 2021, quando o jogo bateu recordes de acesso, a ponto de estrear na bolsa de valores de nova iorque. entre as mais de 60 bilhões de mensagens diárias na plataforma, os corações escondidos pela skin do jogo pulsaram também por baixo do peito dos jogadores que, hoje, moram juntos e planejam um casamento lá fora.
rita wu fez o caminho oposto: namorava na “vida real” e escolheu o metaverso como altar. na época em que a meta (ex-facebook) trocou de nome e óculos de realidade virtual apontavam o futuro, a internet instável não tirou o prazer da festa com possibilidades quase infinitas. o espaço, roupas e lembrancinhas virtuais somaram 32 mil reais, mas os convidados não tiveram custos de transporte para chegar até aqui. apesar de hiper-conectado, o marido só aceitou o pedido de casamento porque foi feito no plano físico.
em 2024, enquanto as ias protagonizavam, a apple se frustrou com as vendas dos óculos de realidade mista. marlus araujo, fundador de um museu no metaverso, vê a tendência como a superação do ritual de penetração para o virtual, cada vez mais integrado com a realidade. se o futuro nos reserva hologramas ou ias personificadas, ninguém tem certeza. o que dá para saber é que, no casamento entre o real e o virtual, o toque na pele ou aquele cheiro no cangote vai continuar existindo para que o final seja feliz.
colaboradores: rafael oliveti, designer 3d, e shane goulart, diretora de experiências virtuais