Já parou para pensar que o seu mundo virtual pode ser completamente diferente daquele das pessoas com quem você se relaciona? Mas, infelizmente, isso não se deve apenas à poética singularidade com que interpretamos a vida, e sim sobre o que o mundo tem interpretado por nós.
À primeira vista, o Google e o Facebook se parecem mais ou menos com a sua mãe. Isto é, por meio de técnicas avançadas de monitoramento, sabem bem o que você fala, o que mais gosta, o que mais detesta, por onde anda e com quem. Mas, diferentemente dela ─- que tem ótimas intenções, e cujas técnicas de rastreamento já foram, a essa altura, desvendadas e burladas por você ─, as empresas da internet que utilizam algoritmos mantêm parte de seus mecanismos em sigilo. Isso quer dizer que não sabemos com precisão até onde vai e como funciona o monitoramento.
Já se sabe, porém, que a partir dos dados que o usuário fornece, o sistema algorítmico cria uma espécie de filtragem no conteúdo exibido, para que você só veja o que quer ver, ou o que o Google acha que você quer ver.
Ironicamente, estar conectado hoje significa, em certo aspecto, isolar-se. Para que Mark Zuckerberg apresente no feed de notícias apenas o que cada um supostamente considera relevante, ele precisa esconder todo o resto. Não é à toa, portanto, que o feed parece concordar sempre com suas postagens, e que aquele tio, de quem você discorda veementemente e com quem brigou no último Natal, é presença cada vez mais rara nas suas redes sociais. A internet vira uma espécie de repetição personalizada da maneira como cada um se comporta.
Em escala global, é possível ter uma dimensão do fenômeno algorítmico: a rede social filtra e personaliza o conteúdo recebido por mais de 1,5 bilhão de pessoas. Mais de um quinto do mundo está sujeito a essa “curadoria” de dados da empresa. Isso sem pensar em todas as pesquisas feitas no Google, nos usuários das demais redes sociais, enfim, em todos os que acessam a internet, e que sob algum aspecto também são ‘ilhados’ pela filtragem de informação.
Vamos, aos poucos, nos tornando mais intolerantes com o diferente, perdendo a capacidade de argumentar, debater, ser desafiados por uma informação. E como, por enquanto, os termos de uso das redes sociais não são negociáveis, nossa sina provisória é aceitar essa filtragem feita pelos donos da internet. O que se pode fazer é pensar criticamente o uso dessas ferramentas, os dados que fornecemos, e, sobretudo, realizar um esforço para apreender cada vez mais informações que nos provoquem, desloquem, nos façam pensar. Então aí vai uma dica para refletir na próxima festa em família: será que o tal tio, de quem você diverge veementemente, é tão insuportável assim? Ou será que o seu problema com ele tem a ver com a sua (e a dele) dificuldade em calçar os sapatos ─ ou usar os algoritmos ─ de outra pessoa?