
Arte: Yasmin Araújo
É domingo de tarde. Como um bom final de semana, o que não pode faltar na casa do brasileiro é o futebol. Para acompanhar o jogo, os telespectadores contam com aquela cerveja, a camisa do time para entrar no clima e um chinelinho Havaianas.
O que muitos não sabem é que até nessa confraternização a pirataria pode estar presente. De acordo com o Anuário da Associação Brasileira de Combate à Falsificação, o Brasil perdeu 345 bilhões em 2022 por causa dessa prática. Alguns dos segmentos mais afetados foram alimentos e bebidas, tecnologia e vestuário. “Já vi casos de falsificação da Brahma, Skol e Havaianas”, conta a advogada Thais de Matos, especialista em marcas e patentes.
Ela explica que, no Brasil, a Havaianas é a marca mais pirateada: “sua falsificação já chegou até fora do país”. Basta uma busca rápida na Shopee e o consumidor encontra o chinelo por R$ 7,90. David Rodrigues, advogado especializado em propriedade intelectual, explica que a aquisição do produto falso não é pela indisposição de arcar com o preço original, uma vez que a Havaianas oficial custa a partir de R$ 49, mas sim pela atratividade de encontrar um modelo similar por um valor mais barato.
Por isso, como destaca Thais, é injusto afirmar que apenas pessoas de baixa renda recorrem a pirataria: “quantas famílias de classe média não tem aquele ‘TV Box’ com séries e filmes? Todos dão um jeitinho. É enraizado”.
Assim como os chinelos, outro produto que faz parte do guarda-roupa dos brasileiros e dos índices de pirataria são as camisetas de times de futebol. No site oficial da Nike, uma blusa da Seleção custa cerca de R$ 300. O preço não cabe no bolso de boa parte da população que depende de um salário mínimo para se manter: “nesses casos, é muito comum vermos pessoas recorrendo a blusas falsificadas”, comenta David. “Se ela não se sente participante desse mundo social e quer se sentir inserida, ela parte para a aquisição de produtos paralelos”. Na Shopee, o modelo copiado sai por R$ 27.
O relógio tocou! São 15h e a partida do Palmeiras já vai começar. Para não perder o jogo do seu time favorito, João Almeida* acessa um site pirata porque não quer desembolsar R$ 59,90 para assinar mais um streaming. Mas a camisa para acompanhar a vitória, ah… “essa tem que ser original! Faço questão”.
Colaboradores: *preferiu não informar o nome; Fábio Tozi, geógrafo com pesquisa no avanço da pirataria.