
respiro e percebo. o coração batendo trêmulo. membros quase derretendo. sono esquisito, chegando e sumindo. o telefone na mão, preciso entender o que ocorre comigo.
psicodélicos. literalmente “de fora da mente”, se tratam de substâncias que alteram o funcionamento do cérebro temporariamente. existem dezenas, senão centenas de variedades: cogumelo, lsd e dmt, e as sintetizadas modernas, como a ecstasy e mdma.
diferente da maioria dos psicoativos mais utilizados, psicodélicos não são nem depressores — como álcool e morfina — nem estimulantes, como café e nicotina. chamados perturbadores, eles afetam estruturalmente a dinâmica interna do cérebro, induzindo-o a agir imprevisivelmente.
no caso do lsd e da psilocibina (cogumelo), a substância ativa continuamente receptores de serotonina — neurotransmissor envolvido na regulação de atividades neurais como o humor, memória, pensamento e diversos ritmos biológicos do corpo. alterado intensamente o padrão desse sinal neural, o cérebro é forçado a “reaprender” suas conexões, gerando dissincronia entre mente e corpo e até entre suas partes internas.
perco a atenção. sons e palavras de alguém ao longe. passos? ameaças, talvez? adiante é alguém me olhando, parado? tremendo, o texto volta à mente e me vejo lendo…
inquietude, dissociação, pensamentos incoerentes e alucinações são efeitos comuns. mas, por serem criações do próprio cérebro, as experiências variam consideravelmente para cada indivíduo, em cada situação. é desta variação que surgem as chamadas bad trips.
quando usadas em ambiente que provoque insegurança, ou quando o estado emocional é impróprio, as substâncias podem acabar amplificando sentimentos negativos.
pânico, retorno de traumas e pensamentos autodestrutivos são comuns, acompanhados de efeitos físicos igualmente variados. incapazes de sair desse estado, afetados tendem a se sentir presos dentro do próprio corpo, dissociados de seu ego.
talvez fosse só uma sombra que vi passando? ainda sinto algo me olhando. nem sei mais o que esse texto tá falando. pensando em tudo e nada, quando vai acabar?! as palavras no texto começam a borrar.
a única solução é esperar a brisa passar. mas com uma percepção distorcida do tempo, o usuário pode sentir que o estado é interminável — o que pode potencializar emoções negativas. nesse momento, é importante ter apoio. uma pessoa segura, um lugar seguro, algo que ajude-o a se acalmar, ou no mínimo a perceber que aquilo vai acabar.
não sei por que… algo remete me lembra você. aquela memória… por favor, não agora! por favor por favor será que eu morri? mentira! mentira! me tira daqui!
perdido no limbo. acalmo um pouco, cansado e com medo… respiro e percebo.
colaboradores: bruno gomes (associação brasileira de psicodélicos), ana clara e safira.