Um incêndio fez Patríciah Froner perceber que tinha coisas demais. Ao separar doações para uma família que perdeu a casa para as chamas, a educadora financeira se assustou: ela havia abarrotado um carro com itens que guardava há anos, sem utilizar. A partir de então, Patríciah começou a pesquisar sobre o minimalismo – estilo de vida baseado em consumir apenas o essencial. Hoje, tem poucas roupas, muitas de fabricação própria. Apenas em último caso compra algo novo, sempre em brechós. Luci Rúbia é outra adepta dessa filosofia. A professora de inglês doa tudo o que não usa e questiona o sentido de trabalhar para sustentar hábitos consumistas.
Tanto Patríciah quanto Luci sentem que comprar menos tornou a vida mais leve. Essa é uma premissa do minimalismo. Originado em Nova Iorque, na década de 1960, ele surgiu como um movimento artístico que valorizava uma estética austera. Mais tarde, o conceito mudou para o campo social, como sinônimo de uma vida simples.
A tendência gera críticas: de acordo com o neurocientista Álvaro Machado Dias, a estética de casas com pouquíssimos adornos prejudica o cérebro, já que os estímulos visuais fomentam a capacidade reflexiva. Na ausência deles, há uma sensação de desânimo, ao passo que informações em excesso causam ansiedade. Porém, segundo Patríciah e Luci, uma casa minimalista não precisa ser vazia e entediante: apenas deve-se evitar o exagero de objetos.
Já Kyle Chayka, autor do livro The Longing for Less: Living with Minimalism, chama atenção para o fato de que o estilo de vida em questão adquiriu feições elitistas, sobretudo em países ricos, onde o consumo material deixou de ser um forte marcador de classe. Embora grande parte da população abastada ainda expresse seu poder aquisitivo por meio de bens materiais, há uma parcela da elite que agora nada contra a maré e consome menos. Assim, o movimento virou sinônimo de elegância e está sendo comercializado para esse público endinheirado. Basta pesquisar o termo na internet para se deparar com casas e móveis na estética – cujos preços nada têm de minimalistas.
Fora do contexto descrito por Kyle, o movimento ganha outros sentidos. É o caso do Brasil, onde ele não está tão atrelado aos super-ricos e abarca a classe média. Patríciah e Luci, por exemplo, veem a tendência mais como uma forma de poupar gastos do que como uma estética elegante. Para elas, o estilo de vida nada tem a ver com elitismo. Mas, claro, só pode se desapegar do supérfluo quem tem dinheiro para comprá-lo. Seja onde for, o minimalismo nem sempre funciona para aqueles que já têm pouco.