Arte por Gabriella Sales e Mariana Catacci
Dores de estômago, confusão mental, insônia e palpitações. Os sintomas, que podem levar alguém ao hospital, às vezes, podem indicar algo positivo: a paixão. Não por acaso, o sentimento compartilha o radical pathos com a palavra patologia, explica a psicanalista Marli Piva Monteiro, que pesquisa o tema há dez anos.
Além das manifestações físicas, a paixão desperta emoções complexas. “Eu me senti como uma criança redescobrindo o mundo”, afirma o gestor de públicas Bruno Martinelli, 30, sobre seu primeiro passeio de bicicleta depois de dois meses afastado por uma lesão.
Morador da capital paulista, que tem 680 km de ciclovias, construídas sobretudo a partir de 2013, ele considera que seu propósito de vida é pedalar. No trânsito, já se envolveu em acidentes, enfrentamentos policiais e situações de risco, mas não pensa em abandonar a atividade “a vida fica mais bonita com a bicicleta”, diz.
Na cultura popular, Alceu Valença descreve o sentimento como o que “vem do mais profundo / onde não cabe a razão”. Monteiro confirma a informação “a paixão envolve o indivíduo com uma tal força que às vezes parece se aproximar dos limites da razão.” A necessidade de paixão na vida está relacionada ao desejo e à falta, esclarece a psicanalista. O objeto do desejo é eterno e está sempre além do imediato, fazendo com que sua procura seja permanente.
Em busca de paixão ou “apaixonada por se apaixonar” é como se define a administradora pública Maria Clara Nogueira, 25. Ela, que já fez “loucuras”, como pegar a estrada em uma noite chuvosa para reencontrar um amor e viajar 850 km para conhecer outro, diz gostar do frio na barriga.
Cada apaixonado faz suas próprias loucuras. A publicitária Giovanna Callegari, 22, não sai de casa sem levar alimento, que oferece a animais de rua. “Quando eu vejo um cão, paro o carro em qualquer lugar para dar comida. Depois penso ‘o que eu estou fazendo?’, mas sei que isso pode dar mais um dia de vida a ele”, avalia.
Segundo a OMS, cerca de 30 milhões de animais vivem nas ruas do Brasil. Ciente de que não pode salvar todos, Giovanna busca alternativas. Desde 2019, ela resgatou 160 bichos e fundou um projeto com mais de 35 mil seguidores no Instagram, o @adotarpatinhas. “Minha vida mudou completamente, sinto que precisam de mim”, conclui.
Colaboraram:
Bruno Martinelli (30)
Giovanna Callegari (22)
Maria Clara Nogueira (25)
Marli Piva Monteiro, psicanalista
Fontes:
Ciclovias em SP
Animais de rua no Brasil
“Paixão”, de Alceu Valença