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Prazeres secretos

 

Por Julia Alencar Nicolas Dalmolin

 
Arte: Bárbara de Aguiar

Você tem um hábito que gostaria que ninguém descobrisse? Se sim, ele pode ser considerado um prazer culposo (guilty pleasure, em inglês). A expressão dá nome àquelas ações agradáveis que causam uma sensação de vergonha quando realizadas. Por isso, as pessoas que têm esses costumes não gostam de revelá-los, por mais inocentes que sejam.

Daniel* é professor em um colégio particular de São Paulo e tem prazer em fingir que está fora do país para encontrar estrangeiros em um aplicativo de namoro. Ele paga por uma versão mais avançada do programa para poder mudar a própria localização e dar matches ao redor do globo. “É tipo um jogo para mim. Se tem um match, é como se passasse de fase”, diz.

O professor garante que esconde o que faz pelo medo de ser considerado uma pessoa superficial. “Com esse hábito você tem uma validação externa, o que cai no estereótipo da pessoa solitária e carente. Mas, para mim, é só uma curiosidade de saber como são os homens de outros lugares”. 

Um prazer culposo, porém, não precisa ser algo muito elaborado. Evandro*, por exemplo, gosta de fingir que está jogando bola enquanto ouve uma narração de futebol sozinho em casa – algo que define como “ridículo e infantil, mas estranhamente divertido”. Já o nutrólogo Arthur* gosta de contrair os músculos do peitoral no ritmo das músicas que ouve no transporte público, sempre discreto para não ser descoberto. “Se me vissem, iriam pensar que estou me achando”, afirma.

A psicanalista Maria Erica Aquino explica que o receio de expor alguns hábitos pode ter origem nas percepções que o sujeito tem de reconhecimento social e aprovação. “[Esses elementos] são fundamentais na formação da identidade, e a falta deles pode resultar em um forte sentimento de desconforto, como a vergonha”, explica.

A vergonha é uma emoção complexa. Ela é gerada quando uma pessoa sente que falhou de alguma forma em atender às próprias expectativas do que a sociedade espera dela ou as das normas sociais que ela aceita. Para se libertar desse sentimento, existem duas opções: abandonar o hábito que causa vergonha ou mudar a percepção do que seria correto ou socialmente aceito.

O publicitário Leandro Batista afirma que, no mundo da propaganda, por exemplo, produtos com estigma social – como os aplicativos de namoro utilizados por Daniel – são representados em cenários de felicidade para minimizar a vergonha que poderia estar associada a seu consumo. 

A construção de imagem das pessoas segue a mesma lógica: cada indivíduo busca ser consistente nos comportamentos ao se apegar a uma série de ideias, pessoas e hábitos. “Você passa a pertencer a um grupo, e qualquer comportamento que desvie do esperado causa vergonha e, quando revelado, muitas vezes reprovação”, completa.

*Os nomes das fontes foram alterados para preservar suas identidades

Pode repetir, por favor?

 

Por Matheus Alves e Natalia Milena

 

NOMES-ESTRANHOS-V4

Arte por Bruna Irala e Mayara Prado

 

 

O nome escolhido ao nascer é, à princípio, permanente. Mas, às vezes, essa escolha foge à regra e resulta em algo um tanto quanto incomum

 

 

Ouça o nosso podcast também no Soundcloud.

 

Colaboraram:

Andréia Gagliardi, da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (ARPEN)

Dhyemille Pinheiro

Inlá Darc

Mei Melo

Valcinei Xavier

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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