Quer se reconhecido na rua, ter uma legião de fãs e admiradores, e distribuir autógrafos pra tudo quanto é lado? É só pegar uma câmera (pode até ser a de um celular), gravar um vídeo, e hospedá-lo num canal no YouTube que você mesmo pode criar. Engana-se quem acha que é preciso fazer coisas mirabolantes no vídeo. Quando é dado o play, naturalidade é a palavra de ordem.
Quer exemplos? A dona do canal Viih Tube é uma moça de 16 anos. Ela tem três milhões de seguidores, e se considera “formadora de opinião e influenciadora da grande massa” que a segue. Em um de seus vídeos, ela se juntou ao primo e eles propuseram desafios um ao outro, como comer um pacote de biscoito, quebrar um ovo de galinha com uma mão, beber um litro d’água… Detalhe: cada tarefa devia ser cumprida em sete segundos.
Tem também o Pedro Afonso — um jovem de 20 anos que tem um canal chamado RezendeEvil. Além de produzir vídeos de jogos, também faz sucesso com gravações dele sendo encoberto por 40 amebas coloridas, ou passando com um carro, um Audi, por cima de um iPhone 6 com a tela quebrada. Um novo custa hoje cerca de 2.500 reais. Essas brincadeiras já renderam mais de três bilhões de visualizações de seus vídeos.
O canal Bel para meninas é protagonizado por uma criança de apenas oito anos, mas tem 2,6 milhões de pessoas inscritas. Nos vídeos, Bel mostra sua mochila e estojo da escola, faz teatrinhos simulando situações cotidianas, e participa de desafios culinários estrelados por ela e sua mãe, que se diverte tanto quanto a filha nas gravações. Em pelo menos dois vídeos elas aparecem vomitando depois de tomar bebidas que prepararam.
O que os três (e muitos outros youtubers) têm em comum é a naturalidade. Eles arrotam, gritam, erram, gaguejam e até vomitam na frente das câmeras. Apesar de contarem com editores de vídeos que poderiam retirar essas partes com as gafes, elas são mantidas justamente pra gerar identificação com o público. Os internautas pensam “nossa, eu também faço essas coisas”.
A professora do Instituto de Psicologia da USP Leila Tardivo crê que a popularidade dos youtubers também se apoia no avanço da tecnologia. Como as pessoas ficam mais em casa pela falta de segurança, e passam a maior parte do tempo sozinhas, acabam assistindo a esses vídeos pela falta que sentem de ter contato direto, ao vivo, olho no olho. “Os youtubers acabam se transformando em amigos desse pessoal super conectado que passa a maior parte do tempo sozinho, no celular, no computador”, justifica.