A história não é feita apenas por pessoas reais. Apresentamos aqui seis personagens de ficção que influenciaram ou influenciam até hoje o modo como vivemos nossas vidas.
Zé Carioca
O papagaio malandro nasceu no início da década de 40 de uma visita que Walt Disney fez ao Brasil, com o propósito de conhecer o país e produzir novas histórias e filmes inspirados no continente latino-americano. Chegando aqui, ele descobriu que piadas de papagaio faziam um tremendo sucesso entre os brasileiros da época. Juntando isso ao fato de o animal ser das cores da bandeira do Brasil, Disney e sua equipe criaram o Zé Carioca. O nascimento do personagem se deu no contexto da política da boa vizinhança, adotada pelos Estados Unidos para aumentar seu poder de influência sobre os países latinos. Ele era alegre, hospitaleiro e um grande mentiroso – morava em uma favela, mas queria fazer parte da alta sociedade, o que o levava a aplicar golpes. Zé carioca foi importante para que o “jeitinho brasileiro” tomasse mais forma e força, aumento a popularidade do arquétipo do malandro no país.
Robin Hood
A origem da história do caçador inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres é incerta – não existe nenhum registro histórico que aponte que ele existiu de verdade. O que se sabe é que os ideais de Robin influenciaram as nomenclaturas de alguns conceitos econômicos. O efeito Robin Hood por exemplo, acontece quando a renda é redistribuída para amenizar as desigualdades econômicas. Na prática, seria cobrar mais impostos de quem ganha mais dinheiro e menos ou nenhum imposto de quem ganha menos dinheiro. Atualmente, países como França, Suíça e Holanda taxam grandes fortunas, cada um com a sua própria regulamentação. O efeito Robin Hood reverso também existe. Nesse caso, os ricos ganham mais à custa de quem tem menos.
Barbie
A boneca mais vendida do mundo foi lançada em 1959 e, desde então, tem feito a cabeça das meninas nos mais de 150 países onde é vendida. Ela foi criada pela norte-americana Ruth Handler, e o nome foi uma homenagem a sua filha, Barbara, que preferia brincar com fotos de modelos recortadas a brincar com as bonecas disponíveis. A influência da boneca se dá em duas principais vertentes: estética e consumo. Alta, magra e loira, a Barbie reproduz um estilo que é valorizado pela sociedade, mas que é inatingível. Não é raro encontrar por aí histórias de mulheres que gastaram rios de dinheiro com plásticas para ficarem parecidas com a boneca. A partir da década de 80, ela deixou de ser apenas um brinquedo: o rosto de traços finos começou a estampar mochilas, cadernos, roupas de cama, bolas, sabonetes e os mais variados produtos. Fascinadas, as crianças querem comprar tudo e ficam cada vez mais envolvidas pelo modelo barbie.
Dona Benta
A dona do Sítio do Picapau Amarelo apareceu primeiramente como uma contadora de histórias em livros avulsos de Monteiro Lobato dos anos 20. Com o advento da série, na década seguinte, a personagem toma forma de uma mulher idosa e erudita.
Em 1940 deu título a um dos livros de receita mais vendidos na história do Brasil e em 1979 à marca mais famosa de farinha de trigo. Paradoxalmente, a personagem “Tia Nastácia” é que cozinhava no sítio, as avós da elite brasileira não costumavam ir para a cozinha.
Sherlock Holmes
O detetive mais famoso do mundo é um personagem criado em 1887 pelo escritor Arthur Conan Doyle. Em sintonia com a época, usava o método científico e a lógica dedutiva para encontrar soluções de grandes mistérios. Morador da Baker Street, Holmes foi responsável por popularizar internacionalmente cartões-postais londrinos e estimam-se que hajam mais de 25.000 produções culturais relacionadas ao seu universo. Só de filmes são centenas.
Sua influência também afetou a realidade: Doyle, que era médico, inspirou a ciência forense. Muitos departamentos de polícia utilizaram as recomendações de Holmes para não apagar pegadas e algumas de suas técnicas “ficcionais” de reconhecimento de impressões digitais e caligrafias precederam os usos reais.
Rei Artur
Presente no imaginário britânico há pelo menos um milênio, Artur é uma figura lendária que teria comandado grandes batalhas contra os anglo-saxões, por volta do século V. Historiadores até hoje debatem alguma possível correspondência histórica, mas isso nunca impediu que a monarquia utilizasse de supostos vínculos com sua figura para ganhos políticos. A primeira menção escrita é do século IX, descrito apenas como um grande guerreiro. A partir daí sua presença se expande para todo o folclore e literatura da Europa, com adições posteriores de todos os elementos que conhecemos, como o mago Merlim, os cavaleiros da Távola Redonda e a espada Excalibur.
Com informações de:
Roberto Elisio dos Santos, vice-coordenador do Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos (NPHQ) da ECA-USP,
Fernanda Theodoro Roveri, pedagoga e autora do livro “Barbie na educação de meninas: do rosa ao choque”
‘The Universal Sherlock Holmes’ de Ronald De Waal.
The 101 Most Influential People Who Never Lived, de Allan Lazar, Jeremy Salter, Dan Karlan
King Arthur, Myth-Making and History – Higham, N. J. (2002)
IG