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Se toca

 

Por Beatriz Arruda

 

Em uma ida ao ginecologista, a professora Ana Paula, de 30 anos, foi aconselhada a conhecer melhor sua vagina através do toque e a vergonha que a tomou foi tão grande que nunca mais voltou. “Achava que seria tachada de louca se me tocasse e gostasse”. Ela não é a única que se priva da masturbação. Segundo a pesquisa Mosaico 2.0 do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas, de 2016, 40% das mulheres não se masturbam com frequência e, dessas, 19,5% nunca experimentaram a prática.

 

 

O medo de Ana Paula de gostar da tal da siririca era o mesmo da sociedade, igreja e medicina, instituições que tiveram papel importante na repressão da sexualidade feminina. Lígia Baruch, psicóloga e autora do livro “Uma revolução silenciosa: A sexualidade em mulheres maduras”, explica que o prazer da mulher preocupava por estar ligado à vazão dos desejos sexuais, que poderiam resultar em maior independência.

 

 

Conversas sobre sexo não ocorreram na casa de Ana, e na escola não ultrapassavam as questões anatômicas. Segundo Carolina Ambrogini, ginecologista e uma das fundadoras do Projeto Afrodite (centro de sexualidade feminina da UNIFESP), para além do desconhecimento, o desestímulo da mulher ao toque acontece desde cedo. Quando a menina é flagrada tocando seu órgão sexual, a frase “tira a mão daí” é uma certeza, enquanto o mesmo gesto reproduzido por garotos é acompanhado de “brincadeiras” sobre seu desempenho sexual futuro: “Esse vai dar trabalho”.

 

 

Ambrogini afirma também que “a masturbação é um grande exercício da sexualidade” e seu desestímulo pode resultar na inexistência de prazer e, até mesmo, desprazer nas experiências sexuais. “Fazia sexo com meu ex-marido porque era obrigada a fazer, para ter filhos mesmo. Era mecânico”, conta Ana Paula.

 

 

Na década de 60, a revolução sexual começou a mudar o cenário. Baruch ressalta, no entanto, que algo tão enraizado demora a ser desconstruído. O ponto de virada para Ana Paula foi quando entrou em um novo relacionamento e teve a curiosidade despertada pela literatura erótica. Porém, mesmo em 2018, a liberdade sexual não chegou para todas. “A mentalidade de que a mulher é desejada mais do que ser desejante ainda está presente. Elas precisam despertar para o fato de que são donas dos seus próprios corpos”. E ser dona do próprio corpo passa pelo aprendizado de ter prazer sozinha.

 

 

Por isso, Ana Paula, não tira a mão daí.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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