Em um país com tantas variedades linguísticas como o Brasil, quem utiliza a palavra como meio de produção cultural pode encontrar nisso um modo de resistir aos padrões impostos e lutar pelo direito de falar à própria maneira.
Embora seja apenas um exemplo entre diversas possibilidades, o rap é a primeira manifestação artística que vem à cabeça quando o assunto é preconceito linguístico. Conhecido por denunciar a realidade periférica e a desigualdade social no Brasil, o gênero musical também pode servir como um meio de afirmação da identidade de quem o produz.
É um ato de celebração da própria cultura, como afirma o rapper independente Wladinir Gomes, que utiliza o nome artístico ONNI: “o Hip Hop carrega nas suas raízes a responsa de criar um espaço para que possamos ser livres sendo quem somos.” E essa liberdade se materializa também na expressão oral que enfrenta preconceitos que, segundo ele, funcionam como um dos escudos da elite burguesa e são tidos como uma forma de deslegitimação do povo.
Essa afirmação é reforçada pelo sociolinguista Marcos Bagno, professor no Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília (UnB) e autor de diversos livros sobre preconceito linguístico. Para ele, o preconceito contra variedades linguísticas menos prestigiadas decorre do preconceito social já existente contra as pessoas que as utilizam. “Essas variedades são menos prestigiadas porque não são faladas pela reduzida minoria branca urbana de classe média. O que não pertence a essa minoria é visto sempre como errado, feio, ridículo, etc.”
E se “falar errado” for o problema, ONNI deixa o recado: “antes falar errado do que pensar errado, que é um dos sintomas do preconceito.”